A Lisa pergunta se a crise já passou ou se é gorda. Diz que emigrou e que não precisou de estudar para ter carreira. É comunicativa e gosta de dizer coisas sobre a atualidade, mas sempre com um tom de humor.

A Lisa nasceu de um projeto académico de Paulo Mariz, de 23 anos, que defende a intervenção artística, mas prefere quando esta é feita de uma forma leve e alegre. Assim, espalhou pelas ruas do Porto mais de uma dezena de cartazes com a sua Lisa e frases que já estão na cabeça de toda a gente.

Percurso

Licenciado em Design Gráfico na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), Paulo frequenta agora um mestrado na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), onde nasceu este projeto. Um projeto “demasiado especial” para ser guardado na gaveta junto com todos os outros feitos no âmbito da faculdade.

Da ideia ao papel, a iniciativa ganhou forma e depressa saiu fora das paredes da faculdade para ganhar vida própria. De inspiração, serviu-lhe, desde sempre, o trabalho do artista Jean-Michel Basquiat. Paulo aproveitou o estilo interventivo do criador americano e juntou a sua marca pessoal. Redesenhou a mais famosa obra de arte do pintor renascentista Leonardo da Vinci e coloriu-a ao estilo de Basquiat.

O resultado final extasiou o jovem artista, que decidiu arrastar as suas Lisas até às ruas do Porto. Mas a arte de rua implica alguns riscos e Paulo não se deixou surpreender pela destruição de algumas delas. “Fico triste quando rasgam o cartaz todo, mas alguns rasgões que fazem até têm a sua piada”, diz o artista. Mas nem só nos rasgões se dá a interação com o público.

O estudante de mestrado é admirador de Leonardo da Vinci e garante que esta não pretende ser uma afronta à arte clássica, mas sim uma forma de reutilizar e transformar uma das obras mais importantes do mundo da pintura. O designer diz não ter medo de um regresso de Da Vinci para lhe “puxar as orelhas” mas admite que, se este estivesse vivo, talvez não entendesse que esta é uma forma de valorizar a sua arte e não de a vandalizar.

“No fim da licenciatura senti a necessidade de mostrar os meus trabalhos”

Paulo diz que a grande parte dos trabalhos “são cozinhados” num ambiente académico em que apenas os professores vão ver ou ler e que raramente existe o incentivo de os “tirar das cadeiras” das faculdade. “Sentimos que fomos pouco ativos, fizemos a licenciatura mas não aproveitámos ao máximo aquilo que lá fizemos. É preciso aproveitar qualquer projeto que se possa trazer para fora da faculdade”, conclui.

O designer defende a importância de mostrar o trabalho e demostrar um papel ativo e determinante na sociedade. Por isso, em 2013, a Lisa promete continuar a espalhar as suas mensagens pelas ruas do Porto. Os cartazes encontram-se, por agora, em algumas ruas emblemáticas da Baixa do Porto, como a Rua da Picaria, a Rua Dr. Ricardo Jorge e a Rua Miguel Bombarda.