Dados divulgados pelo presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades, Fernando Gomes, à Lusa, calculam que em 2012 se tenha dado a maior vaga de emigração desde 1960. Só o ano passado terão emigrado perto de 100 mil residentes em Portugal. A conta ainda não é exata, mas Fernando Gomes garante que o número de 2012, garante, “vai ser pior em pelo menos 50 a 60% do que em 2011”.

Números do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, só em 2011, foram cerca de 44 mil as pessoas residentes em Portugal que emigraram para outro país. Um aumento de 85%, face aos cerca de 24 mil portugueses que emigraram em 2010.

Como destino, estão países como Suíça, França ou Luxemburgo, mas ainda Angola, Brasil e Reino Unido. E é precisamente para “terras de sua majestade” que na próxima segunda-feira, dia 18, ruma Maria Gomes, de 23 anos, natural do Porto. Recém-licenciada na Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) e com estágios no Hospital de São João, no Hospital de Santo António ou ainda no IPO Porto, não encontrou alternativa. Enviou inúmeros currículos em busca de uma resposta que já não estava à espera de receber e que, de facto, nunca recebeu.

“Em Londres sei que vou ter oportunidades”

O sonho

Desde cedo que Maria quis que a medicina fizesse parte da sua vida, mas foi em enfermagem que acabou por se formar. No entanto, quer ir mais longe. A ideia é ser enfermeira instrumentista e trabalhar no bloco operatório e a oportunidade de especialização pode nascer em Londres. “Eu gostava mesmo de ser enfermeira de bloco, gostava de ter uma equipa que fosse só minha”, conta a jovem.

Emigrar nunca fez parte dos planos de Maria, que finca bem os pés em solo português, mas agora sente-se obrigada a partir para “vencer na vida” e se realizar profissionalmente. “Eu vou arrastada pelos cabelos, vou contrariadíssima mas eu cá não faço nada”, garante. No entanto, na hora da partida, o sentimento é contraditório. “Por um lado vou contrariada, mas por outro vou conformada porque vai ser o melhor para mim”, afirma.

Southampton, nos arredores de Londres, é onde Maria quer concretizar os sonhos que cresceram com ela em Portugal. “Em Londres sei que vou ter oportunidades que sempre sonhei ter aqui em Portugal”, diz. Para além de que o trabalho é mais valorizado: “Horas extra lá são pagas em dinheiro, enquanto cá são pagas em tempo”, há “possibilidade de progredir na carreira”, “facilidade em arranjar alojamento”, e ainda “facilitam as vindas a Portugal com flexibilidade de horários”, enumera.

Deixar a família, o Porto e a comida portuguesa não vai ser fácil. Diz até que “a partida vai ser dolorosa”, que “na hora da despedida vai custar muito”, mas, quem sabe, não valerá a pena.