A Rita é portuguesa, tem 29 anos e trabalha como freelancer em produção de cinema, publicidade e eventos. Gosta da “não-dependência” e da “liberdade” que a sua profissão lhe permite, talvez porque tem o “bichinho” de viajar. Por isso, quando conheceu o uruguaio Leandro, que não consegue parar em casa, conheceu a sua “outra-metade”, que a levou a conhecer a América Latina – e essa foi só uma das viagens que fizeram juntos.

WWOOF

A WWOOF é uma rede internacional de quintas orgânicas originária do Reino Unido e difundida já em mais de 100 países. Solidarizou-se com o projeto e Rita e Leandro passarão por mais de 15 quintas. Em troca de mão-de-obra, só pedem estadia e alimentação. Querem aprender tudo o que há para saber sobre agricultura biológica mas também partilhar conhecimento, ajudando a desenvolver comunidades locais.

Oito anos depois do primeiro encontro, estão prestes a embarcar na maior aventura – sustentável – da vida da deles. O projeto chama-se “Green Brick Road” e o casal quer seguir uma “rota verde” de quinze quintas orgânicas, que fazem parte da rede internacional de voluntariado “World Wide Opportunities on Organic Farms” (WWOOF). Atravessam cerca de 50 países, trabalham entre três a seis semanas em cada sítio, “dependendo do que cada quinta tem para oferecer”, explica Rita.

A fiel companheira de quatro rodas será uma carrinha Mercedes 307D de 1984, que já foi o transporte de um grupo portuense de música africana. Tem cama, frigorífico, lavatório, fogão, uma casa de banho portátil e o mais importante: anda a óleo de fritar. Tudo nesta viagem foi concebido para ser o mais sustentável possível. “Nós sempre viajámos muito, e agora queríamos dar algo em troca. Queríamos tornar estas viagens numa atividade mais produtiva”, conta Rita.

O primeiro passo para uma viagem amiga do ambiente: o combustível

O “paciente” mecânico André, como o descreve Rita, foi quem fez todas as adaptações e a conversão do motor. Legalmente, bastou informar acerca da adaptação e pagar o imposto relativo ao óleo consumido num ano – a data de validade do documento. Já a técnica, é complexa: “O motor arranca usando diesel e quando atinge uma determinada temperatura, um aparelho emite um aviso e passamos para o óleo. Antes de desligarmos a carrinha, passamos novamente para o diesel”, explica Rita. Este mecanismo ajuda a evitar alguns problemas – principalmente em baixas temperaturas.

O combustível

O óleo de origem vegetal em estado puro (sem adição de diluentes) devolve à atmosfera apenas os gases que foram absorvidos pela planta, ou seja, apenas C02. O óleo usado pela dupla é reciclado (filtrado de água e resíduos depois de já ter servido para fritar alimentos), prevenindo a desflorestação. Este biocombustível polui menos o ar e ainda impede que o óleo usado seja depositado no meio ambiente – diretamente ou através de esgotos caseiros -, contaminando o solo.

Para já, levam na bagagem três depósitos: dois de 240 litros cada e um de 120. Durante a viagem, esperam contar com a solidariedade de quem forem encontrando e ponderam mesmo trocar trabalho pelo óleo. O previsto é gastar 10 litros aos 100 quilómetros/hora.

15 de fevereiro é a data da partida. Itália é o primeiro destino, mas existirão outros. Depois da Europa, Ásia, América Latina, África do Sul e Estados Unidos são alguns deles. Sempre a andar para cumprir um sonho que já vem a ser planeado a sério desde há dois anos atrás.

É há seis meses, no entanto, que Rita se dedica ao projeto a tempo inteiro. Tudo para que os esforços valham a pena. Foram muitos dias a “trabalhar muito e não gastar nada” para juntar dinheiro. “Nada de cinema, nada de comer fora, nada de nada”, garante a jovem. O resto, veio de outros apoios. A WWOOF foi sempre “muito acessível”, tal como as pessoas que entretanto foram conhecendo. “A receção ao projeto é extraordinária”, conta.

No fim da viagem, mesmo sem esta ter ainda começado, já há um objetivo traçado: “Devolver o que aprendermos na viagem e criar a nossa própria quinta”, afirmam.