Estão nove pessoas em palco. Sete, firmes e sem emoção – só opinião. São vozes intervenientes mas quietas – são consciências de uma mulher desesperada e esbracejante, ao centro, e um homem de coração partido, escondido na bruma. É Medeia, a mulher cruel e ao mesmo tempo frágil, quem se debate. “São meus filhos, são meus filhos! Desde quando te lembraste de ter medo de mim?”. Quem tem medo é Jasão, o herói grego, o marido infiel de Medeia e o negligente pai dos seus filhos.

A história já é bem conhecida dos amantes do clássico, mas esta é uma Medeia “contaminada” com “sangue novo”: é “Medeia de Noitarder“, um espetáculo do Teatro Universitário do Porto (TUP) que entra em cena no próximo dia 7 de fevereiro.

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“Medeia do Noitarder” está em cena até 23 de fevereiro. De terça a domingo, sempre às 22h, na sede do TUP, na Travessa de Cedofeita. O preço do bilhete normal é de 5 euros; para estudantes, sócios ou grupos, 3 euros. Mais informações e reservas, contactar: 910 414 072 ou [email protected]

Raquel S., atual diretora da instituição, foi quem escreveu e encenou a peça. Com dedicação e cuidado, impôs as suas próprias vivências à história da mitologia grega e deu-se à liberdade de a “reescrever totalmente”, de “mudar o tipo de linguagem” e até “aldrabar o que fosse para aldrabar”, herdando apenas “as coisas que interessam”. Depois, foi filtrada por todos – desde encenadores a atores, técnicos e produtores, que dão um bocadinho de si a Medeia.

Também quem está lá para ver não consegue ficar indiferente. Ora raiva ora compaixão, são sentimentos contraditórios que a mulher, quase louca, desperta na plateia. O jogo de luz e de som cria o ambiente perfeito para os semear.

65 anos de tradição: nada muda – nem a sede

Mas perfeita ou não, “Medeia de Noitarder” é ainda mais especial pela altura em que é exibida. É com ela que se iniciam as comemorações dos 65 anos do Teatro Universitário do Porto. A festa dura todo o ano e já se antecipam mais dois espetáculos – um deles de dança – e o esperado “TUP Apresenta” a 27 de março, no Dia Mundial do Teatro.

Raquel S. tem 26 anos, está no TUP desde 2010 e assumiu a presidência em junho de 2011. 65 anos depois, pouco pode dizer da história do grupo, mas garante que, neste momento, o TUP está a viver uma fase muito boa. A aposta na “dramaturgia própria” e “nas valências dos sócios” é cada vez maior – e é recompensada. “Há muitas vantagens em ter pessoas que não fazem da sua vida o teatro e que trazem uma mundividência completamente nova”, explica Raquel. “Cada mundo, de cada pessoa” enriquece muito os espetáculos.

Mas no momento de soprar as velas, são ainda muitas as preocupações que ocupam os pensamentos dos “amantes” do TUP. A sede, que já era problema há quatro anos atrás, continua a sê-lo. A solução não está á vista e as expectativas de Raquel “continuam a ser sucessivamente goradas”. “O edifício está cada vez pior, e tentamos sempre otimizar ao máximo a sala, mas a verdade é que quando chove muito, continuamos a ter de parar trabalhos”.

Esperemos, por isso, que fevereiro não seja um mês de chuva, porque o público merece ver Medeia. Além disso, o espetáculo “está feito. Está feito e não há como voltar atrás”.