O desenvolvimento da internet conduziu ao rápido e fácil esclarecimento sobre vários assuntos. No campo da Medicina, a quantidade de informação disponível sobre diversos casos clínicos alterou a relação dos médicos com os pacientes, agora mais suscetíveis a confusões e falsos alarmes.

A falta de informação objetiva disponível na internet pode levar a um diagnóstico errado, tal como a existência de muitos sintomas semelhantes para diferentes condições pode conduzir a um autodiagnóstico perigoso.

A estudante da Escola Superior de Tecnologia de Saúde do Porto (ESTSP), Inês Mondim, utiliza a internet para o “autodiagnóstico” desde os 19 anos e admite que, apesar de não ficar confusa, muitos dos resultados assustam-na. Inês pesquisa “em situações de prescrição médica ou de sintomas de uma possível patologia”. Acredita que recorrer ao “Doutor Google” “não conduz à hipocondria” mas é, de facto, “um fator associado”.

É “muito difícil” que alguém consiga “tratar-se devidamente”

Um dos grandes perigos de diagnósticos errados é a automedicação inapropriada, que pode prolongar ou agravar o problema de saúde. Elisabete Cavaleiro, farmacêutica, diz que ainda existe o mito do “eu é que sei como me sinto”, ou “eu sou o médico de mim próprio” porque muitas vezes não confiam no profissional de saúde ou julgam já ter encontrado o medicamento adequado ao tratamento.

Estudos

Segundo um estudo norte-americano, um em cada três indivíduos procura na web diagnóstico para os seus problemas de saúde e metade dos inquiridos questiona um médico sobre os resultados obtidos.

Quanto aos casos que podem muitas vezes induzir em erro os utentes, a farmacêutica dá o exemplo do cansaço excessivo e das dores gerais no corpo: “Uma utente pode pesquisar na internet e julgar que tem fibromialgia e após o diagnóstico médico fica a saber que os sintomas se devem à alteração do calçado e ao uso de saltos altos”.

Elisabete admite ainda que a utilização da internet nestas situações não conduz à hipocondria, mas que o utente pode já ter tendência para estar alerta a vários sintomas e a internet facilita a sua ligação a diversas doenças. “Como não tem qualquer filtro de um profissional de saúde, rapidamente o utente pode julgar que tem diversos problemas de saúde, e sentir mesmo os sintomas destes, desenvolvendo a apetência que teria para a hipocondria”, realça.