Esta quinta-feira, no âmbito da 33.ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto, o Fantasporto apresentou ao público presente no Teatro Rivoli, “Frostbitten”, uma longa-metragem do sueco Anders Bake, realizada em 2006. Apesar da sala a meio a gás a película provocou tanto gargalhadas como momentos de suspense.
A história incide na vida de uma médica, Annika, e da sua filha, Saga, que estão de mudança para uma pequena cidade no norte da Suécia, onde o inverno dá a lugar à escuridão fazendo com que a luz solar seja praticamente inexistente . As duas vão começar uma nova vida, mas cedo se apercebem de que aquela cidade carrega um pesado fardo, um segredo que não quer ser revelado.
O segredo
O enredo inicia-se em plena II Grande Guerra aquando da invasão alemã à Polónia, em 1944. Debaixo de uma tempestade, o exército nazi é apanhado numa emboscada e os sobreviventes procuram encontrar refúgio numa casa abandonada, no meio da floresta. É aqui que são surpreendidos pela presença de seres sobrenaturais – vampiros. A séria contextualização leva o espetador a crer que o argumento seja dramático.
Mordido por uma das atacantes, Beckert, o único sobrevivente, acaba por se tornar também ele num vampiro. Aí, inicia a demanda de cruzar as espécies na tentativa de criar uma raça superior mista, indo de encontro à ideologia de supremacia ariana.
A dicotomia entre o sério e o ridículo
Já instaladas na nova casa, Anika e Saga tentam envolver-se no novo ambiente, quer no trabalho, quer na escola, respetivamente. No hospital onde Anika trabalha, Beckert desenvolve os seus estudos antigos de cruzamentos genéticos, onde é responsável por uma única paciente: a sua cobaia. Um dos estagiários do pólo encontra as pastilhas experimentais de Beckert, espalhando-as por todos os jovens da cidade.
A partir daqui, Anders permite-se a realizar uma dicotomia entre o sério e o ridículo, alternando cenas de comédia com cenas thriller. Por exemplo quando um dos jovens transformados come alho por engano, satisfazendo as suas necessidades com a cabeça do coelho doméstico da família da namorada.
Os símbolos religiosos, normalmente associados à superstição, são uma constante na narrativa. Muitas das vezes ridicularizados, criam um dialeto entre o passado e o presente da carga lendária, sendo que antigamente essas histórias eram levadas a sério, nos dias que correm são banalizadas e desprovidas de qualquer conotação científica.
Dr. Beckert, protagonizado por Carl-Åke Eriksson, mostra um desempenho aquém das restantes personagens, uma vez que o papel era um dos principais e não fica na memória do espectador. Apesar da banda sonora também não acrescentar nada à película, os efeitos especiais realistas produzem o contrabalanço. Os planos escolhidos pelo realizador, muitas das vezes em travelling ou em contra-picado, criam a atmosfera necessária para envolver o público.