A Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual (ABAADV), também conhecida como “Escola de cães-guia para cegos em Portugal”, treina cães-guia há mais de uma década e é ainda a única escola deste género no país.

Mas por detrás de cada cão, há um treino específico e demorado. Os cães-guia precisam de aprender competências para que possam exercer o seu trabalho ao lado dos deficientes visuais e, segundo a diretora técnica da escola, Ana Filipa Paiva, “cada cão tem a sua personalidade”.

De cachorro a guia

Para se tornar guia, o processo de aprendizagem começa quando o animal é ainda cachorro. Depois de ir buscar os cães a França, a escola seleciona lares de acolhimento próximos. Aí, as famílias responsáveis pelos cães têm a responsabilidade de os ensinar a comportar-se, a respeitar horários, a não roubar comida ou saltar para os sofás.

Só depois de seis meses é que o cão começa a frequentar a escola – uma semana por mês. Acompanhado por treinadores, começa a aprender tudo aquilo que precisa para trabalhar com o seu utilizador. Aos 12 meses, começa a frequentar a escola durante todas as semanas e só regressa ao lar aos fins de semana.

O treino continua até o cão-guia fazer dois anos. Aí, é entregue a uma das pessoas em lista de espera – mas não a qualquer uma. Cada cão é entregue à pessoa que melhor se adequar à sua personalidade. Só assim é que podem formar uma dupla forte.

Cães-guia “reformados”

O cão-guia trabalha em média oito anos, ou seja, entre os dois e os 10 anos. Depois de perderem as suas competências físicas e cognitivas, deixam de viver como guias. Quando passam a “reformados”, podem viver confortavelmente com os seus utilizadores, com a família de acolhimento original ou regressam à escola, para serem entregues a uma família de reforma.

Segundo a diretora da ABAADV, Ana Filipa Paiva, os cães-guia da escola são maioritariamente labradores, embora também treinam flats retrievers. Até ao momento, já foram entregues aproximadamente 125 cães-guia.

Quanto custo um cão-guia?

Para os utilizadores, os cães-guia não custam nada. A entrega é totalmente gratuita e as despesas são asseguradas pela associação, à exceção das contribuições feitas pelo deficiente visual, nas duas semanas de experiência com o novo companheiro.

A escola, por outro lado, gasta aproximadamente 20 mil euros durante o treino de cada cão. Para além dos donativos que recebe, a Segurança Social cobre ainda 60% das despesas.

Em contrapartida, o cão continua a ser da associação, mesmo que viva com o seu utilizador durante o resto da vida. Isto, permite que a ABAADV recupere o cão-guia caso haja maus tratos ou o utilizador o use para outros fins que não aqueles a que se destina.