Mónica Bettencourt-Dias representa a Europa num artigo que aborda a experiência de investigadoras de diversos continentes. O artigo faz parte do dossier da revista "Nature", publicado esta semana, sobre a temática das mulheres e a ciência.

É no artigo intitulado “A partir da linha da frente: a ciência aos 30 e tal”, divulgado no site da “Nature”, onde são apresentadas mulheres cientistas que são mães e que, ao mesmo tempo, desempenham funções de gestão ou de investigação em laboratórios, que Mónica Bettencourt-Dias representa as investigadoras da Europa.

A bióloga de 39 anos é a diretora de um dos laboratórios do Instituto Gulbenkian de Ciência e, juntamente com Keity Santos, imunologista brasileira da Universidade de São Paulo, e Kay Tye, neuro-cientista norte-americana do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), consta do dossier da revista “Nature”, no âmbito do tema “A mulher e a Ciência”.

“Nunca senti discriminação por ser mulher”

O dossier da “Nature” foi divulgado dois dias antes do Dia Internacional da Mulher e integra ainda artigos que abordam o tema da “Desigualdade quantificada: atenção à diferença de género”. Mónica refere que “ainda há muita discriminação” e que “há poucas mulheres professoras das universidades”, em vários países europeus. A cientista portuguesa diz que, no campo da igualdade de géneros, não sentiu nenhum tipo de discriminação: “Portugal até é normalmente dado como um bom exemplo dentro da Europa. Claro que ainda podemos melhorar”, sublinha.

A cientista portuguesa é doutorada em bioquímica e biologia molecular. Trabalhou na University College de Londres, mas foi na Universidade de Cambridge que descobriu o regulador principal do centrossoma, uma região específica da célula. Foi com esta descoberta que se destacou no meio científico e teve o primeiro artigo publicado na “Nature”. Em 2006, regressou a Portugal. “Foi excelente ver o trabalho acessível a outros cientistas”, conta ao JPN.

Atualmente, Mónica Bettencourt-Dias é a investigadora principal do grupo de Regulação do Ciclo Molecular e recebeu, em 2010, a bolsa Starting Grant no valor de 1,5 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação, que lhe permitiu desenvolver o trabalho “da melhor forma”.

A sociedade deve apoiar as mães

O artigo da “Nature” revela ainda, no âmbito da temática, que Mónica adotou, há alguns meses, uma criança de um ano. A revista refere, também, a gravidez das cientistas Kay Tay e Keity Santos. A investigadora afirma que é importante que “a sociedade se organize” para apoiar as famílias. Devido à carga de trabalho dos cientistas, Mónica diz ainda que “deve haver compensação no salário para quem tem crianças, para poder ter apoio doméstico e contratação de ajuda com as crianças”.

“Nature” realça a excelência académica e profissional de Portugal

De acordo com a biografia publicada na “Nature”, Mónica Bettencourt-Dias esteve, desde uma tenra idade, rodeada por personalidades do meio da ciência. A revista científica realça, ainda, o facto de Portugal, apesar de ser um país relativamente pobre da Europa, ter um grande historial de mulheres que alcançam a excelência a nível académico e profissional. De acordo com a “Nature”, o facto pode dever-se às tendências dos anos 60 e 70, período durante o qual mulheres educadas investiam na carreira em países como Angola e Moçambique.

Para Mónica, tanto a vida pessoal como a profissional exigem competências de organização e comunicação. Recentemente, a investigadora participou e promoveu workshops em ex-colónias portuguesas, como Cabo Verde, o primeiro país africano a ter um governo maioritariamente composto por mulheres.