“Terá o Norte a capacidade para produzir eventos culturais de qualidade e, simultaneamente, atrativos? Poderá esta região fazer frente à centralização de Portugal na capital, Lisboa?” – estas duas questões resumem o debate da passada quinta-feira, 14 de março, que envolveu diversas personalidades do Norte envolvidas no ramo cultural e empresarial.
A conferência aconteceu no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) e começou pela apresentação do estudo que a motivou. Ainda em curso no IPAM, a investigação incide sobre os festivais de verão e em novas ações de comunicação para o festival Marés Vivas.
Depois de explicados os resultados, começou o debate. Foram seis, os intervenientes: Jorge Silva (diretor do festival Marés Vivas), Manuel Serrão (empresário e responsável por eventos como o Portugal Fashion), Odete Patrício (diretora Geral da Fundação Serralves), Beatriz Pacheco Pereira (diretora do Fantasporto), Pedro Abrunhosa (músico) e Daniel Sá (diretor do IPAM Porto). A moderar a conversa esteve Sérgio Amaral, editor de Cultura no Jornal de Notícias.
Um Norte distorcido
Os convidados foram unânimes numa coisa: fazer um evento no Porto e no Norte, em geral, dá mais trabalho. Manuel Serrão referiu-o primeiro e Odete Patrício complementou-o de seguida. Pedro Abrunhosa foi mais longe, ao referir que o centralismo e a intertextualidade – sinergias entre os poderes político, mediático e de entretenimento – existentes na capital são “absolutamente castradoras” e que Lisboa “ignora o país”.
Mas, segundo a generalidade dos intervenientes, o poder político portuense é abafado e invisível. “Havendo a demissão da cidade enquanto líder da região vai ser complicado” fazer face ao centralismo, explica Abrunhosa. A diretora de Serralves vai mais longe ao dizer que “a fuga do poder para o centro é típica de países subdesenvolvidos” e que, “enquanto estivermos dependentes do governo central”, os problemas irão manter-se.
Será o desafio lutar por melhores condições? Para Manuel Serrão, “a única luta que vale a pena fazer é a luta pela igualdade de oportunidades e condições”.
Beatriz Pacheco Pereira acrescenta o papel da escola e da aculturação. Isto, servirá para evitar a visão distorcida de uma geração “com uma imagem muito redutora do Norte” causada, em medida, pelos meios de comunicação social.
A visão redutora que existe da região nortenha causa problemas a nível das marcas. Jorge Silva, do festival Marés Vivas, conta que “houve uma altura em que era muito complicado convencer as agências e marcas a investir no Norte”.
Potencialidades da região
“Para o Porto estar no mapa, os projetos têm de ter qualidade”, diz Odete Patrício. Para tal, os meios têm de ser os melhores, “sejam eles quais forem e onde estiverem”. Manuel Serrão acrescenta que, para qualquer evento, existem os melhores e os melhores que tal evento pode ter e, a partir daí, produzir um projeto com qualidade.
Pedro Abrunhosa fala ainda da questão da regionalização e da distribuição do poder administrativo. “Combate-se a desigualdade com a implementação da regionalização”, que irá “esvaziar Lisboa”, acredita o músico.
Daniel Sá, com uma abordagem mais ligada ao marketing, concluiu que as empresas do Norte devem dedicar mais tempo a estudar os consumidores. “Estamos a viver uma época fantástica para o mercado do tempo livre”, pois as pessoas precisam de ser animadas.
O diretor do IPAM Porto propôs um desafio aos restantes convidados: “Trabalhem em conjunto e lutem pelo tempo livre das pessoas”. Daniel Sá acredita que as lutas individuais não são suficientes para promover o Norte. Em vez disso, propõe trabalhos e protocolos conjuntos entre os presentes empresários e “outras grandes marcas” da região.