Após dois anos fechados num sótão, os Botequim Fantasma decidiram abrir-se ao mundo e lançar o primeiro registo discográfico. Cristóvão Siano, vocalista, diz que não podiam fazer “música para o umbigo” durante muito tempo, pois precisavam de mostrar algo às pessoas para obterem algum feedback. “Precisamos de saber se estamos no caminho certo ou não”, conta.

O nome, Botequim Fantasma, ainda é algo estranho para a banda. Paulo Andrade, baixista, afirma que, apesar de inconsciente, “a escolha vai de encontro à música”que fazem, reportando para “sons e imaginário passado”.

A banda aposta em melodias cativantes que conferem à música um tom sarcástico, enigmático e intimista. Além destas características, para Tony Lopes, guitarrista, aquilo que distingue realmente os Botequim das restantes bandas é, sobretudo, a boa dose de humor que, depois, “passa para a música”. Cristóvão sublinha que “o humor corrosivo” é mesmo uma marca vincada do grupo. As músicas são alegres, mas as letras são misteriosas e enigmáticas. “São letras feitas por camadas”, afirma. Filipe Lopes, baterista, diz ainda que, muitas vezes, parecem crianças em palco, sempre com boa disposição. “Todos nós já estivemos em diferentes bandas, e nunca tivemos uma vivência assim”, diz.

Guarda-Nuvens é o primeiro EP do grupo

O primeiro EP, Guarda-Nuvens, tem “boa música para oferecer” e trata-se de um “trabalho honesto”. Finalizar as músicas foi a primeira dificuldade que a banda encontrou ao trabalhar no disco. Cristóvão afirma que o “processo criativo não foi propriamente o mais linear” e que foram feitas várias versões da mesma música. João Calvo, teclista, conta que, depois de finalizadas as composições, “há muito trabalho que ainda vem a seguir, desde as fotografias, o design e toda a parte comercial”.

Apesar de terem atuado ainda em poucos palcos, a banda tem tido bastante apoio por parte do público. Já na Internet, “não há assim muito feedback” a não ser de “pessoas conhecidas” ou de “amigos”. Cristóvão diz que a intenção da banda é fidelizar, “incentivar as pessoas a ouvir e a opinarem, fazerem um juízo de valor do que ouvem”.

Uma das formas de contornar a pirataria é tocar ao vivo

Apesar de a pirataria prejudicar a maioria das bandas, os Botequim afirmam que ainda não se sentem ameaçados. Aliás, João diz mesmo que se “as músicas andam a ser pirateadas até é bom”, pois é sinal de que “há pessoas interessadas”. Tendo em conta a dimensão do país, os músicos dizem que a venda e compra de CD’s “já não se usa”.

Depois da fase inicial de divulgação do trabalho, “as coisas começam a estagnar”. É esta segunda fase que pode travar o sucesso e a expansão de uma jovem banda. “Aquilo que se vai fazer depois” é o grande problema que os grupos enfrentam em Portugal. Os projetos ficam “na gaveta” e é aí que os músicos precisam de parar para ver “a vontade” que têm “para avançar” na música, “mesmo quando as coisas não estão a correr bem”. Cristóvão diz, também, que tudo depende das reações dos membros face às primeiras adversidades.

“A arte só faz sentido se for mostrada”

Mesmo em tempos difíceis, fazer e divulgar música não é impossível. Paulo refere que “é preciso arranjar maneira de comunicar”. Para os mais novos é importante dizer que, “apesar das adversidades”, não devem deixar de acreditar. “É importante comunicar, dar a conhecer música, pintura, qualquer coisa. É preciso trabalho e, quando se sentirem prontos, mandem cá para fora. Há-de haver alguém que vá ouvir aquilo que fizeram”, aconselha.

Tony diz ainda que “a arte só faz sentido se for mostrada”. Criar arte apenas para uma pessoa não deve ser “considerada verdadeira arte”. O baixista afirma que arte “acontece quando se cria algo” e depois se mostra ao mundo. Arte é “partilha” e, como tal, não faz sentido que muitas bandas não divulguem o próprio trabalho.

Quem vive realmente “esta arte, depois só se sente realizado quando a mostra”. “Se gostam realmente do que estão a fazer e se amam a música, falta o último passo para se tornar em verdadeira arte: mostrem às pessoas. Arrisquem”. É este o grande conselho para quem “ainda está no sótão”.