A quarta edição do ciclo “Diálogos com a Ciência” voltou a debater, esta quinta-feira, 21 de março, o tema “O Eu e o Nós em Sociedade”. Durante o debate, os convidados, com a participação do público, abordaram temas como os direitos de cidadania, o Estado social, os mais recentes acontecimentos na União Europeia e os meios de comunicação social.
À mesa do Salão Nobre da reitoria da Universidade do Porto (UP), sentaram-se António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, e Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto e candidato à autarquia portuense.
António Tavares, que abriu o debate, considera que “Sem o Eu não há o Nós e sem o Nós não há o Eu”. No entanto, os vários “eus” deixaram “de se compreender em comunidade e a ideia democrática foi posta em causa, levando a uma maior intervenção” por parte dos cidadãos e das instituições. Já Rui Moreira acredita que os cidadãos “estão hoje mais preocupados uns com os outros”.
Contudo, o presidente da Associação Comercial do Porto atenta que as “instituições de solidariedade social, os portugueses e os portuenses são, muitas vezes, individualistas”. Isto relaciona-se com uma teoria das ideias brilhantes, na qual Rui Moreira refere que, em 100 ideias brilhantes, só uma realmente o é. Isto leva a que surjam vários movimentos solidários bastante parecidos e causem uma perda de diferenciação entre as diversas campanhas.
Sobre o contexto político, económico e social de Portugal, atualmente, Tavares acredita que o “Estado vai deixando os cidadãos cada vez mais à sua sorte e que terá de ser o coletivo a resolver a situação”. António Tavares relembrou que, no país, “o povo não gosta de reformas, prefere revoluções”.
“Quando falamos hoje em direitos, encontramos a sociedade portuguesa profundamente dividida, entre os que podem evocar tais direitos e os que não têm direitos nenhuns”, refere Rui Moreira. O mesmo diz que “um cidadão sem condições mínimas de sustentabilidade não tem direitos”, porque uma pessoa que mendiga não se vai preocupar em reclamar esses direitos de cidadania, exemplifica o candidato à Câmara do Porto.
Quanto à paciência do povo, Rui Moreira não esquece que, apesar de o 25 de abril ter sido uma revolução “com cravos nas pontas das espingardas”, o povo e, a título de exemplo, os portuenses, “são sanguinários”, como durante o tempo da Revolução Liberal. Isto é, não são bem um povo de brandos costumes tal como Salazar os pintou.
Os “Diálogos com a Ciência” regressam à reitoria da UP a 4 de abril, com a presença de Frei Fernando Ventura e Luísa Malato.