Nascido em 1917 em Leça da Palmeira, Óscar Lopes ingressou no ensino superior em 1975, depois de uma carreira como docente do ensino secundário. Foi professor catedrático e diretor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde se jubilou, e ainda vice-reitor da Universidade do Porto (UP). Homem das letras, faleceu esta sexta-feira, aos 95 anos.

Distinguiu-se como ensaísta, historiador – trabalhando com António José Saraiva – crítico literário e foi colaborador em publicações como “Seara Nova”, “Vértice” e “Mundo Literário”. No reportório constam inúmeros ensaios de linguística e literatura. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública em 1989 e a Ordem da Liberdade em 2006.

Pessoa “excecional” e “cidadão exemplar”

Óscar Lopes participou ainda na vida política através do Partido Comunista Português (PCP) e fez parte do comité central do partido. José Casanova, editor do jornal “Avante!”, disse ao JPN que lhe “fica para sempre na memória uma pessoa excecional, de grande qualidade e valor”, acrescentando que com Óscar Lopes “aprendeu muito” em aspetos como “cultura, amizade e camaradagem”, conta.

Também do PCP, Francisco Melo conviveu com o professor e relembra as “lutas estudantis” que travou ao seu lado. “Era um grande mestre da literatura portuguesa, linguística e um cidadão exemplar”, conta o militante.

“Com um companheiro morto, todos morremos um pouco”

Arnaldo Saraiva, poeta, ensaísta e ex-professor catedrático da Universidade do Porto, relembra, em entrevista ao JPN, a humildade de Óscar Lopes: “Quem olhava para ele não se apercebia da distância entre um dos maiores intelectuais que Portugal teve e o homem que em nada anunciava essa condição – a não ser quando discursava”, refere.

Para o poeta, “com um companheiro morto todos morremos um pouco” disse, citando a escritora brasileira Cecília Meireles e afirmando que é difícil encontrar alguém com as capacidades de Óscar Lopes: “Ele tinha sempre no horizonte o progresso da nossa sociedade e a melhoria da condição humana”, conta o ex-professor.

Arnaldo Saraiva descreve ainda Óscar Lopes como “um homem afável, dialogante e muito digno”, classifica a morte do especialista como uma “grande perda para o país e em concreto para o Porto”, diz.

Também contactada pelo JPN, Isabel Pires de Lima, docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), falou do contributo do professor para a literatura e linguística portuguesa. A ex-ministra da Cultura não deixou, no entanto, de sublinhar a “grande atitude” de Óscar Lopes perante a vida.

O corpo de Óscar Lopes estará, até este sábado, na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, na Praça D. João I. Às 15h, depois de uma breve cerimónia, o corpo seguirá para o Cemitério de Matosinhos – onde será cremado por volta das 16h30.