No Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil, aniversário do autor Hans Christian Andersen, fomos falar com duas escritoras e uma ilustradora da editora portuguesa, Planeta Tangerina, que na semana passada foi distinguida com o prémio de melhor editora com livros para a infância.

Ana tem 30 anos, escreve porque gosta de escrever e não procura atingir um determinado tipo de público. Carla Maia de Almeida é do norte e para além de jornalista, escreve para crianças, mas assume que os seus livros também são para adultos.

Ana estreou-se com “O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca” em 2010. Mas o prazer da escrita surgiu em criança, quando começou a escrever contos que eram fotocopiados e distribuídos pelos seus colegas de turma. Só parou de escrever “para ler outros [autores]” quando estudou Línguas e Literaturas Moderna na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Para Carla Maia de Almeida, a ideia de escrever para crianças surgiu durante a primavera de 1999. “Foi uma intuição. Eu limitei-me a segui-la. Não foi fruto de um processo racional”, conta. Depois de cinco livros juvenis, vai estrear-se na Planeta Tangerina com “Irmão Lobo”.

Infância como fonte de inspiração?

“Uma das coisas mágicas da literatura é dar-nos a possibilidade de reescrever a nossa história”, diz Carla Maia de Almeida. Com a sua infância bem presente na memória, Carla admite que muitas das histórias que escreve são baseadas naquilo que viveu. A prova disso é o seu livro “Não Quero Usar Óculos”, onde a personagem é confrontada com a ideia de ter de se tornar um “caixa-de-óculos”, uma experiência pela qual a própria autora passou quando era mais nova.

Ana Pessoa também vê na sua infância uma base para as histórias que escreve, mas confessa que a sua adolescência “não daria um livro de jeito”. Mesmo assim, partilha muitas semelhanças com a personagem do seu “Caderno Vermelho da Rapariga Karateca”: o karaté, os diários e até a educação num colégio católico.

Mas é fácil escrever para crianças? Ana diz que é mais difícil escrever para crianças do que escrever para adultos. Escrever para crianças exige que o escritor viaje para “um universo que não é o nosso [adultos]”. Já Carla Maia de Almeida vê a questão de outra forma e acredita que o difícil não é escrever para uma idade ou outra, o “difícil é escrever bem”. “E escrever bem e depressa, para mim, é quase impossível”, diz.

Contar uma história com imagens

A maioria dos livros infantis acompanha a história com ilustrações e a Planeta Tangerina investe fortemente nesta ideia. Mas será que ilustrar um texto para jovens não será infantil? Os jovens não quererão ler textos “para gente grande”, sem “bonecos”? Estas dúvidas atormentaram Ana Pessoa na altura em que o seu livro era preparado para publicação.

Quando recebeu o Prémio Branquinho da Fonseca 2011, Ana não esperava ver “O Caderno Vermelho da Karateca” ilustrado. Na altura teve algumas dúvidas, mas hoje tem a certeza de que Planeta Tangerina fez do seu livro uma obra “lindíssima”.

Yara Kono

Yara Kono trabalha em ilustração desde que veio para Portugal. Desenha desde que era um “pinguinho de gente”, mas só começou a trabalhar profissionalmente quando entrou para a Planeta Tangerina, em 2004. Até essa altura, vivia no Brasil onde trabalhava como farmacêutica/bioquímica. Hoje, já ilustrou 13 livros e recebeu o Prémio Nacional de Ilustração, em 2010, com o “O Pavão no Desvão”, de Ana Saldanha.

Ao contrário de Ana, Carla Maia de Almeida pensa nas ilustrações depois de ter pensado “o suficiente” na história. A escritora diz que “as ilustrações são sempre feitas a partir do texto que é entregue ao ilustrador” mas que é um processo interactivo entre as duas partes. “O que importa é que o livro resulte coeso e forte”, diz Carla, admitindo que já modificou elementos do seu texto para jogarem melhor com a ilustração. O mesmo diz Yara Kono, ilustradora da Planeta Tangerina e premiada pelo seu trabalho em ilustração.

“Geralmente é o ilustrador quem decide o que ilustrar”, revela Yara Kono. Todo o processo de ilustrar livros para crianças “requer algum cuidado”. O ilustrador tem de interpretar a história e contá-la novamente através de imagens. Além disso, tem de pensar no público que a vai ler. É importante transmitir “experiências e sensações novas”.