João Ricardo Pateiro fez o “relato” do jornalismo desportivo em mais uma conferência do seminário de “Jornalismo Especializado”, no pólo de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Dentro do jornalismo de especialidade, a editoria de desporto torna-se, até, um caso de estudo, porque, segundo Fernando Zamith, organizador do seminário, “foi a primeira especialização que existiu na história do jornalismo e muitas vezes está à parte do resto da redação”. João Ricardo Pateiro concorda com a ideia de que a editoria de desporto é diferente das outras: “No meu caso, a redação de desporto é uma TSF dentro da TSF”.

Sobre o jornalismo desportivo, o relatador da TSF defende que “não é menor do que os outros. É tão difícil como outro qualquer, está sujeito às mesmas regras e existem excessos como noutras áreas”. No entanto, salienta uma diferença: “No desporto há mais emoção, todas as semanas há momentos decisivos, enquanto na Política só há eleições de dois em dois anos”.

Jornalismo Especializado em abril

Durante o mês de abril, o seminário “Jornalismo Especializado” vai contar com mais três conferências. O jornalista do JN, Alfredo da Maia, vai falar de jornalismo ambiental, no dia 9. David Pontes, da Lusa e do Porto24, fala de jornalismo local, no dia 16. Por fim, Carlos Rico, da SIC, fecha o mês com uma conferência sobre reportagem de investigação, no dia 23.

João Ricardo Pateiro considera mesmo o desporto uma área mais exigente, porque “o público domina o tema, há pessoas que durante a semana pensam mais no futebol do que no seu emprego”. Este conhecimento do público faz com que “todas as gafes sejam identificadas e o jornalista precise de muita preparação, o relatador tem de saber tudo sobre os clubes, as equipas e os jogadores”.

Famoso pelas canções com as quais anima os relatos de futebol, João Ricardo Pateiro centrou a discussão no relato desportivo, o qual classifica como “o género jornalístico mais dífícil”. Sobre as canções com que “festeja” os golos, João Ricardo Pateiro justifica-se: “Criei as canções porque no relato tem de existir informação, entretenimento e espetáculo”. O relatador da TSF adapta, frequentemente, músicas tradicionais portuguesas ou “jingles” publicitários para assinalar os golos. Esta inovação no relato futebolístico valeu-lhe o prémio de melhor relato do mundo, em 2011, atribuído pela ESPN Brasil.

“Backstage”

Ao longo de toda a conferência, João Ricardo Pateiro falou, também, sobre a história do relato futebolístico em Portugal, comentou o legado de Artur Agostinho e de Jorge Perestrelo, e animou a audiência com algumas histórias de gafes no jornalismo desportivo e nos bastidores dos principais clubes portugueses.

“Em televisão, o relato não tem tanta emoção”

Durante a conferência, o jornalista que já trabalhou na Rádio Nova, na TVI e que agora trabalha na TSF e colabora na SPORT TV, falou sobre as diferenças entre o relato radiofónico e televisivo: “A linguagem em rádio é diferente da de TV. Em rádio temos de descrever tudo, dar muitos pontos de referência para que a pessoa consiga ver o jogo”.

João Ricardo Pateiro critica a prática do relato televisivo em Portugal: “Em televisão, o relato é pouco apelativo e muito conservador, não há tanta emoção e utiliza-se uma linguagem rebuscada, quase de tribunal”. Para além disso, o jornalista defende que, na televisão, “há muito medo da redundância de descrever a jogada”.

O jornalista falou, também, sobre a diferença de condições entre os jornalistas do Porto e Lisboa: “Trabalhar em Lisboa é mais fácil. Os grandes trabalhos, como os jogos da Seleção e os duelos europeus, ficam, normalmente, para jornalistas de Lisboa”.