Ao vivo ou online, de forma profissional ou amadora, cada vez são mais os portugueses que tentam a sua sorte no Poker. O jogo de cartas originário dos Estados Unidos da América tem vindo a ganhar popularidade por todo o mundo e Portugal não foge à regra.

Com programas televisivos, torneios e fóruns na Internet, o Poker deixou de ser exclusivo dos casinos. O Pokerpt, principal forum português dedicado ao jogo, é uma das provas do crescimento da modalidade: se em 2004 tinha apenas 38 membros, atualmente já conta 43 mil. O torneio nacional diário do Fulltilt, site de jogo online, é outro exemplo de sucesso: com entrada exclusiva a portugueses, junta todos os dias cerca de 400 jogadores.

Regras do Jogo

Existem várias variantes de Poker, sendo a mais popular o “Texas Hold’em”: cada jogador tem duas cartas e na mesa são dispostas cinco cartas comunitárias, visíveis a todos os jogadores. No final da jogada, ou “mão”, cada jogador tem de fazer a melhor combinação possível, escolhendo cinco cartas entre as sete disponíveis. Existe uma hierarquização de jogadas sendo a “Sequência de Cor”, ou seja cinco cartas seguidas do mesmo naipe, o melhor jogo possível. Ao longo da jogada, os jogadores podem apostar de forma a obrigar os outros jogadores a desistir ou a elevar o “pote”, ou seja, o montante em jogo.

Ao vivo, o principal evento de poker em Portugal é o Solverde Poker Season. Anualmente, realiza torneios em casinos de norte a sul. O bilhete para cada torneio custa entre 110 a 1100 euros e normalmente participam mais de 150 jogadores. O evento nasceu em 2006 quando o grupo de casinos já sentia “uma crescente popularidade deste jogo a nível mundial”.

Ulisses Pereira, comentador televisivo de Poker, está ligado ao jogo há mais de uma década e classifica os últimos 5 anos como um “verdadeiro boom” da modalidade em Portugal, que “agora está a estagnar”. Para o comentador, a simplicidade das regras do jogo justifica o sucesso inicial.

Bruno Pacheco joga Poker há mais de seis anos e concorda com a ideia de que aconteceu um grande crescimento do jogo: “A adesão e curiosidade em Portugal foram muito grandes”, diz. Para o jogador amador, a atual crise económica contribuiu para esta tendência, já que “muitos jovens procuram no Poker a sorte grande”.

“Um jogo fácil de aprender que exige disciplina e coragem”

A ambição de ganhar dinheiro e o prazer de jogar têm atraído cada vez mais pessoas que sonham em vencer os principais torneios mundiais no entanto, por falta de talento ou prática, são muitos os que ficam pelo caminho. Ulisses Pereira define a modalidade como um “jogo fácil de aprender”, no entanto, defende que para se jogar bem é preciso disciplina, treino e coragem: “Muitos são bons analistas, mas têm medo de apostar”, afirma.

André Coimbra, jogador profissional, classifica um bom jogador como aquele que tem “motivação, disciplina, perseverança e um raciocínio lógico/dedutivo” e dá ainda grande importância ao estudo de probabilidades e estratégias de jogo. Ulisses Pereira salienta a importância de estudar o Poker, porque “o jogo está sempre a evoluir, e quem não quiser aprender mais, acaba ultrapassado pelos novos jogadores”.

Já Bruno Pacheco, jogador amador, define o Poker como um jogo de “paciência”. Destaca “o poder de encaixe necessário quando as coisas não correm bem” e considera importante um jogador ter “boas perceções de probabilidades e estatísticas.”

Quando é jogado ao vivo, a modalidade ganha ainda uma nova dimensão: para Ulisses Pereira exige maior capacidade de “perceção” e “é mais difícil fazer bluff”, ou seja enganar o adversário. André Coimbra defende que, “ao vivo, [o Poker] é um jogo com mais glamour onde tem uma componente algo física”. Ainda assim, na Internet, “pode-se jogar mais mesas ao mesmo tempo e pode-se jogar com qualquer tipo de valor, incluindo gratuitamente”, sublinha.

Um país de bons jogadores

Fazer do Poker profissão também é cada vez mais comum em Portugal. Para estes jogadores, o seu trabalho é a aposta e o risco. Passam horas em torneios online, diariamente, e frequentam os principais eventos mundiais – às vezes com grande retorno.

André Coimbra começou a jogar Poker em 2005, quando estudava Ciência de Computadores na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Ao JPN, André Coimbra conta como o interesse no Poker surgiu depois de jogar Magic [popular jogo de cartas]: “Nessa altura ouvi dizer que alguns jogadores de “Magic: The Gathering” estavam a ganhar muito dinheiro no Poker e resolvi experimentar”, recorda.

European Poker Tour

O “European Poker Tour” (EPT) consiste numa série de torneios de Poker, realizados nos principais casinos europeus. Realiza-se anualmente, desde 2004, e é um dos principais eventos do Poker europeu. Em 2009 e 2010, o Casino de Vilamoura foi o palco de um torneio EPT. Em 2008, foi o português João Barbosa quem venceu o EPT de Varsóvia, com um prémio de 367mil euros. Já António Matias conquistou 404 mil euros com a vitória no EPT de Vilamoura. Em 2011, Fernando Brito conquistou o título de jogador do ano desta “Liga dos Campeões” do Poker europeu.

A experiência correu bem, ganhou 13 mil dólares (cerca de 10 mil euros) num torneio online e decidiu começar a jogar em part-time. Em 2009, conquistou o estatuto Supernova de Elite da Pokerstar, o maior site de Poker do mundo, e tornou-se jogador profissional.

No entanto, tornar o Poker numa profissão não é fácil, exige total dedicação e muita motivação. Bruno Pacheco está atualmente desempregado e, ainda que não se considere um jogador profissional, o Poker torna-se uma das principais fontes de rendimento. “Para jogar de um modo profissional temos que dedicar pelo menos 80% da nossa vida a este jogo, isto se quisermos ser competitivos e ganhar dinheiro”, alerta.

André Coimbra afirma, no entanto, que, tendo em conta “a população do nosso país, há uma grande percentagem de muitos bons jogadores”. Ulisses Pereira, olhando para os resultados conquistados pelos portugueses, não pode deixar de concordar.