No início de dezembro de 2011 eram cinco as torres com vista para o rio Douro, no Bairro do Aleixo. A demolição do primeiro edifício aconteceu no dia 16 desse mês com a implosão da torre número 5. Esta sexta-feira, é a vez da número 4.

Os preparativos para a implosão já estão a decorrer. À volta da torre 4 reúnem-se alguns moradores que, curiosos, apontam a atenção para o edifício graffitado e com traços de destruição evidentes. Aos olhares mais atentos, juntam-se os daqueles que por ali passam mais de uma vez ao dia e que, de forma lenta e gradual, vão acompanhando o processo de preparação.

“Tenho medo que isto vá abaixo”, afirma Fátima Ribeiro. Moradora do bairro há quase 40 anos, encontrava-se, no momento da entrevista, à conversa com outra moradora. “Não sabemos o que vão fazer aqui – apartamentos, hotéis – a gente não sabe”, continua Fátima. Também Cravinho Oliveira, a viver no Aleixo desde 1975, concorda com a posição de Fátima: segundo o próprio, a destruição é “ilegítima”.

À saída do bairro, um condomínio de luxo contrasta com os edifícios em processo de demolição. Perto dali, os contrastes evidenciadores da desigualdade tornam-se visíveis em detalhes tão simples como dois automóveis estacionados lado a lado: um vandalizado por oposição ao outro, um desportivo topo de gama.

“Não falo porque isto é uma miséria”

Onde estão os antigos moradores?

“Estão bem, pelo menos dizem que lhes deram casas boas”, afirma Fátima Pinheiro que, no entanto, preferia continuar a viver no bairro se lhe fosse dada a oportunidade. “Tenho pena porque gastei muito dinheiro na minha casa”, diz. Cravinho Oliveira destaca, no entanto, que “as pessoas que aqui moravam estão agora a pagar uma renda maior”.

A crescente atenção mediática leva os moradores a evitar prestar declarações. “Ainda a semana passada falei para a televisão”, afirmou uma residente, que preferiu não ser identificada. “Não falo porque isto é uma miséria”, acrescenta, classificando o ambiente vivido no bairro. A posição é confirmada por Domingos António, residente desde 1974: “O ambiente é sempre o mesmo e está cada vez pior”, sublinha, evitando, no entanto, comentar os assuntos relativos ao tráfico de droga. Domingos vive no bairro “há quase 40 anos” e nunca viu “nada disso”, garante, ao lado do descampado que outrora foi uma escola.

“Nunca tive problemas. A má fama é que põe isto ao contrário”, diz Cravinho Oliveira. “A demolição não é por causa da droga, senão tinham de demolir todos os bairros municipais. Deve é ser por causa do dinheiro”, acredita.

“Tenho quatro filhos e andaram todos aqui, na antiga escola”, conta Fátima Pinheiro que, face à alegada miséria, acrescenta: “Não acho que haja miséria nenhuma, só para quem não quer trabalhar”. Já outra residente, que prefere manter o anonimato, confirma o estado degradante do bairro: “Se isto não é Aleixo, é desleixo”, diz.