Eram 9h30 da manhã e já várias dezenas de pessoas estavam concentradas junto às barreiras de segurança impostas pela polícia, nos vários acessos ao Bairro do Aleixo. Os ânimos estavam calmos, mas transparecia o sentimento de revolta. Nas ruas, mesmo antes da implosão da torre, corria o rumor de que a polícia tinha entrado na torre 1, para partir as lâmpadas dos corredores. Esta informação não foi confirmada pelas autoridades.
Embora algumas pessoas compreendessem o porquê da demolição das torres, outras, nem por isso. Um morador nos arredores do Aleixo, que preferiu não ser identificado, disse que o tráfico de droga no bairro é uma “farsa para justificar” a sua demolição. Já Vanessa, residente da torre 1 – considerada a mais problemática no que ao tráfico de droga diz respeito -, garantiu que “existe droga em todas as torres” e que, se fosse pelo tráfico, “deviam começar a demolição pela primeira torre”.
Vanessa ainda não sabe se vai ser realojada. Ao JPN, a jovem referiu que “toda a gente quer sair” e que as primeiras pessoas a abandonar a torre 1 do Bairro do Aleixo foram as que não o queriam fazer. Vanessa contou ainda que, “se tivesse dinheiro e um trabalho estável, já tinha saído do Aleixo”.
Orlando Cruz, candidato independente à Câmara do Porto, esteve presente no Bairro do Aleixo e juntou-se ao coro de protestos. “Eu sou da opinião de que continuamos a tirar aos pobres para dar aos ricos”. Além disso, Orlando Cruz acrescenta que nenhum morador saiu do bairro “de livre vontade”. No entanto, esta opinião contrasta com a de uma ex-moradora da torre 1: “Graças a Deus que já saí daqui. O meu marido dormia no chão porque a casa era muito pequena”, disse, optando por não revelar a sua identidade.
A queda da torre 4 do Bairro do Aleixo estava prevista para as 11h15. Um minuto antes, a sirene e a contagem decrescente calaram as vozes e o silêncio imperou até ao barulho ensurdecedor da implosão. Quando o pó assentou e se vislumbraram os escombros, ouviram-se os gritos de revolta.
Rosa Violeta era uma das ex-residentes mais afetadas com a demolição da torre. Realojada em Ramalde há três meses, não está contente com a mudança. A ex-moradora do Bairro do Aleixo está a pagar uma renda mais alta e as condições são piores. Ao JPN, garantiu que, na nova casa, não tem “porta no quarto” e “cai água na marquise”, acrescentando que é olhada de lado por ter vivido no Aleixo.
No rescaldo da queda, fica a promessa: quando começarem a construir novos edifícios no lugar das torres do Aleixo, os antigos moradores “vão partir tudo”, disse uma ex-moradora que optou pelo anonimato.