No seguimento das conferências sobre Jornalismo Especializado – organizadas pelo Mestrado de Ciências de Comunicação (CC) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) – o jornalista da Agência Lusa, David Pontes, vai passar pelo pólo de CC para abordar a situação atual e o futuro do jornalismo local. O JPN falou com o jornalista da Lusa para antecipar a conferência desta terça-feira.

Os jornais em papel “deixaram de ter uma coisa tão simples quanto isso, que é o espaço”, disse David Pontes ao JPN, explicando o motivo pelo qual o jornalismo local sofreu um recuo nos últimos anos.

Atual jornalista da Lusa e cronista do Porto24, David Pontes acredita que, para já, ciberjornais como o próprio Porto24, dedicados a informação sobre a Invicta, podem crescer e construir a ligação que os jornais impressos perderam com os seus leitores. O espaço no papel tornou-se escasso na imprensa, principalmente depois da crise. Sem este espaço, não é possível fazer edições diferenciadas nem “contar histórias que podem ser grandes – como o Metro e a Câmara Municipal -, mas que também podem ser pequenas, como a rua esburacada”.

David Pontes

David Pontes começou por trabalhar em jornalismo local no Público, num caderno de 16 páginas dedicado, apenas, a informação local. Mais tarde, foi diretor do Comércio do Porto. Hoje, tanto o espaço local do jornal Público como o Comércio do Porto estão extintos da imprensa nacional.

Mas David Pontes diz que o jornalismo local de hoje tem de percorrer “um meio caminho” entre o jornalismo “muito ligeiro e o muito seco do dia-a-dia”. O jornalista da Lusa considera que este ponto intermédio tem de se afastar do fun da “Time Out” e dos casos do dia-a-dia publicados pelo Jornal de Notícias. Recordando o caderno de informação local do Público, David Pontes diz que o jornalismo local precisa de encontrar um “registo mais interessante” que ajude a “puxar pelo sentido crítico [do leitor], pela análise da comunidade, pela capacidade que tem de ser [o orgão de comunicação] também um vigilante da democracia.”

David Pontes acrescenta, ainda, que, “para sermos grandes jornalistas, não precisamos de ir ao Líbano nem à America Latina, basta-nos ir ao bairro São João de Deus ou à Ribeira”. Segundo o jornalista da Lusa, “as armas são as mesmas e, às vezes, as dificuldades são similares e a proximidade não nos deve impedir de fazer um excelente jornalismo”.

Na conferência desta terça-feira, David Pontes espera falar da situação do jornalismo local, de como a agenda local abrange vários temas e, ainda, do futuro deste género jornalístico em Portugal.