Uma conferência sobre relações amorosas e redes sociais levou centenas de pessoas ao auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), na noite de quarta-feira, para assistir ao debate protagonizado pelo jornalista Paulo Farinha, do Jornal de Notícias, e pelo psiquiatra e sexólogo Júlio Machado Vaz. Nelson Andrade, do jornal Expresso, moderou a conversa.

As mudanças provocadas pelo Facebook

“Se as coisas já eram difíceis de entender no tempo dos nossos pais e avós, ficaram ainda mais difíceis de perceber com o Facebook“, disse Paulo Farinha, acrescentando que os tempos “não são piores nem melhores, apenas diferentes”.

Estatísticas

O jornalista paulo Farinha divulgou dados de um estudo levado a cabo pela Cyberpsychology and Behavior Journal para dizer que mais de “95% dos utilizadores do Facebook já pesquisaram os ex-namorados” e que esta prática levada ao extremo pode ser uma “questão complicada, até mesmo patológica”. Paulo Farinha divulgou também dados referentes a divórcios causados pela rede social.

O jornalista, editor da revista Notícias Magazine, deu conta de alguns hábitos dos utilizadores do Facebook, e afirmou que as fotos de perfil são “o melhor exemplo daquilo que somos na rede social”. Em tom de brincadeira, Paulo Farinha abordou ainda as alterações de estado civil e afirmou que algumas pessoas deveriam poder mudar para “demasiado instável“.

Júlio Machado Vaz deu o seu ponto de vista sobre a influência que a tecnologia tem nas relações amorosas: “O que eu mais ouço no meu consultório são pessoas profundamente magoadas, surpreendidas e furiosas por terem visto as suas relações terminarem por via tecnológica”, disse, dando conta das justificações mais usadas.

Sociedade “cada vez mais paranóica”

Na opinião do psiquiatra, isto acontece porque as pessoas acham que, se evitarem alguém pessoalmente, “há uma morte mais limpa”. Para além disso, a tecnologia dá uma “sensação de omnipotência comunicacional”, explicou.

Para o médico, a tecnologia” reformula conceitos como amizade e privacidade,acrescentando que há uma noção de que um “simples toque no rato faz a outra pessoa sentir-se gostada”.

Júlio Machado Vaz entende ainda que a sociedade está “cada vez mais paranóica” e deu o exemplo de muitas pessoas que criam perfis falsos no Facebook para descobrir o que os outros pensam delas. Apesar destas ideias, o psiquiatra afirmou que “diabolizar a tecnologia é uma hipocrisia, não a utilizar é uma impossibilidade e pensá-la ainda é possível”.