A 1 de dezembro de 2015, vão deixar de existir animais selvagens nos circos ingleses. O Governo britânico cedeu aos grupos de defesas dos animais, depois de uma intensa campanha nesse sentido, que dura desde 2011, e proibiu a utilização de animais considerados selvagens em espetáculos circenses.

Legislação em Portugal

Em 2009, em Portugal, muito se discutiu um projeto-lei que pretendia, precisamente, proibir os animais nos circos portugueses. A medida foi chumbada, mas no mesmo ano foi criada legislação que impediu os circos de exibir uma série de animais – entre elas, primatas não humanos – e de reproduzir determinadas espécies – mesmo que já estivessem na sua posse. Rita Silva, no entanto, fala de falta de fiscalização nesse sentido.

A partir desse dia, será considerada uma ofensa à lei a exibição e participação destes animais nos circos do país. Até lá, os responsáveis pelos circos têm dois anos para que possam atualizar e modificar os seus espetáculos, assim como para encontrarem um novo lar – apropriado – para os seus animais.

Por enquanto, o Governo assegura que estes animais sejam tratados com respeito, através de uma regulação restrita – também prevista no projeto lei. Os animais considerados selvagens, abrangidos pela nova medida, são todos aqueles que, na Grã-Bretanha, não são tradicionalmente domesticados.

Uma medida ainda “um bocadinho cobarde”

Esta decisão surge na mesma semana em que se comemora o Dia Mundial do Circo – este sábado, 20 de abril – e deixou satisfeitas as associações pró-animais. Mas não o suficiente. Rita Silva, presidente da Associação ANIMAL, diz que “todos os passos [em prol do respeito dos animais] são importantes”, mas o objetivo é “a proibição de todos os animais do circo – não só dos selvagens”. Por isso, para Rita, esta ainda “é uma medida muito fraca” e “um bocadinho cobarde”.

Ainda assim, pode ser uma forma de “encorajar outros países a fazê-lo, nomeadamente Portugal”, diz. Mário Alves, domador de leões no Circo Mundial, espera que esta medida nunca chegue a terras lusas: “A tradição portuguesa é esta e o circo em Portugal não consegue trabalhar sem animais”, garante. “Já tivemos circos que tentaram e acabaram”.

Mário faz ainda questão de salientar que trabalhar sem animais poderia ser muito mais rentável, mas as pessoas pagam mais para ver espetáculos com animais. “Se conseguíssemos, poupávamos muito dinheiro. Só em ração, são 16 euros por saco”, conta. Para além disso, existem gastos extras, como as vistorias e as inspeções, para garantir que está tudo em conformidade. Aliás, Mário faz questão de garantir que os animais têm todas as condições.

“Gostam de criticar, mas não se metem deste lado”

Rita Silva, por sua vez, acredita que “o circo é, em tudo, contrário à natureza dos animais”, e baseado no princípio do “freakshow”, diz. “Os circos devem usar os seus artistas humanos, que estão ali de livre vontade, e darem-se ao trabalho de os encorajar a ter cada vez números melhores, em vez de estarem sempre à espera que os animais façam tudo”, diz.

“Um passo em frente”

A ANIMAL já preparou e apresentou um projeto-lei, denominado “Um passo em frente“, para uma nova lei de proteção dos animais, que inclui a proibição dos animais nos circos. A petição de apoio foi entregue em outubro e será discutida em breve no parlamento. “Temos muita esperança que muitas medidas sejam aceites, para já é uma questão de esperarmos e ver o que vamos conseguir”, refere Rita.

Para além disso, garante, “está mais do que provado que os animais são completamente infelizes” e estão em “condições completamente anti-naturais”. Por isso mesmo, são várias as pessoas que se unem contra a utilização destes animais, quer em manifestações à porta das tendas de espetáculo quer através de campanhas, petições, e, muitas vezes, projetos-lei (ver caixa).

“As pessoas gostam de criticar o circo, mas não é a maioria das pessoas”, afirma o domador. Para além disso, “gostam de criticar, mas não se metem deste lado. Não podem julgar todos os circos por um”, sublinha.

“Os animais não devem ser usados. Ponto”

Para Rita, a questão não se prende apenas com o facto de existirem ou não boas condições: “Os animais não devem ser usados. Ponto”. Como exemplo, Rita refere o “Cirque du Soleil, que só depende de artistas humanos” e, segundo a ativista, “tem uma qualidade muito superior”.

Para Mário, este é um exemplo que não pode ser comparado com a realidade portuguesa: “O Cirque du Soleil só tem lucros, não tem prejuízos… porque estamos a falar de outra cultura”. E deixa o recado: Quando nós tivermos apoio [do Estado], podemos viver sem os animais”.