Nasceu com o objetivo de iniciar um processo de renovação na cidade do Porto e conta já com 50 anos de produção e atividade artística e cultural: a Árvore – Coperativa de Atividades Artísticas contou, ao longo da sua história, com a colaboração de vários artistas e intelectuais.

Criada ainda no período do Estado Novo, surgiu, de acordo com Amândio Secca, presidente da direção da cooperativa, num “período em que era proibido pensar em Portugal”. “A Árvore foi uma espécie de grito de revolta, um grito de afirmação da cidadania para defender ideiais”, afirma.

O responsável pela instituição salienta ainda a “luta pela liberdade” e o percurso da cooperativa, que já era longo aquando da revolução dos cravos, a 25 de abril de 1974. A conquista de abril foi, segundo Amândio Secca, recebida com agrado pelos membros da instituição.

Em entrevista ao JPN, o presidente relembra o “tempo de Salazar”: “Uma pessoa que pensasse de maneira diferente da opinião do governo da altura, ou era calada ou presa”, conta. Em retrospetiva recorda que “sempre que se fizesse uma reunião em que se falasse, de forma geral, da palavra ‘moderno’ a polícia política – a PIDE – entrava e interrompia a sessão”.

“A Cultura é a memória de um povo”

José Rodrigues, artista portuense e membro da comunidade da Árvore, contou ao JPN que antes da revolução “existia um deserto liderado pela monotonia e o cinzento”. “Mas a nossa vontade era outra”, diz. José Rodrigues afirma que a Arte “foi e ainda é uma frente muito poderosa” na ação política e o grupo portuense lutava, acima de tudo pela liberdade.

A Arte “foi e ainda é uma frente muito poderosa” na ação política.

A título de exemplo, Amândio Secca relata o episódio da visita de Paulo Autran, ator brasileiro, que “veio falar de Teatro Moderno”. Não conseguiu terminar a conferência, devido à interrupção por parte de um “homem de cinzento ou negro, da polícia de interrogação”, que registou os nomes do presentes. As Músicas eram também motivo de censura.

“A cultura é a memória de um povo, e infelizmente, ao longo de muitos anos, foi tida como um custo”, critica o presidente de direção. “Um país só evolui se apostar na Cultura, no Ensino e na Investigação; quando se corta nestas áreas, corta-se no futuro”, sublinha. Ressalva, no entanto, o trabalho da Árvore ao levar a cabo iniciativas de caráter cultural e artístico. Atualmente, fazem parte desta Cooperativa de Atividades Artísticas do Porto cerca de 1400 associados.

Tornar-se Sócio da “Árvore”

Para entrar para a Árvore como associado basta inscrever-se na sede da cooperativa e pagar as quotas. Os sócios usufruem de descontos nos cursos livres, assim como nas compras e serviços da Instituição.

São várias as atividades a que sócios e não sócios têm acesso: Pintura, Cerâmica, Gravura, Desenho, Artesanato, Escultura, Serigrafia e Litografia. Rui Silvestre, diretor comercial da Árvore, explica que “os cursos são livres e destinam-se a todos aqueles que tiverem interessados em aprender – quer como hobby, quer por interesse profissional”.

Mas não se fica por aqui: Rui Silvestra conta que agora “a cooperativa vai começar a trabalhar também em projetos multimédia, desde a edição de fotografia ao desenho em computador”.

A venda de obras de arte é outra das atividades principais da Árvore. Rui Silvestre afirma que a comercialização de peças produzidas por artistas em colaboração com a instituição é a “principal forma de financiamento e torna o modelo de negócio auto-sustentável”. No entanto a crise tem afectado o crescimento da cooperativa, já que “as vendas baixaram”.

Casa nova aos 50 anos

A Cooperativa de Atividades Artísticas funciona desde a sua fundação na Rua Azevedo de Albuquerque. O espaço conta já com 260 anos de existência e atualmente está em processo de total remodelação.

Rui Silvestre explica que ao longo deste ano serão inauguradas as “novas oficinas e um espaço de restauração com vista para o Douro”. O objetivo é tornar a Árvore um ponto turístico ligado às artes e “criar momentos de reflexão e debate cultural livre”.

As comemorações começaram com uma exposição intitulada “50 anos, 50 mulheres” em que são expostos trabalhos de 50 artistas convidadas que utilizaram o Burel, um tecido artesanal português, na composição de peças artísticas. No entanto, Rui Silvestre promete mais eventos ao longo deste ano de comemorações.