“A nossa ideia tradicional daquilo que é consumo televisivo – em que alguém programa um canal e nós assistimos, no tempo em que as coisas estão a acontecer – está a baixar”, afirma Luís Santos, professor da Universidade do Minho (UM) e investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da mesma instituição.

Entretenimento vs. Informação

“Os jovens até uma determinada idade, sobretudo até entrarem no mercado de trabalho, consomem menos informação do que as gerações mais velhas”, afirma Luís Santos. Por sua vez, Maria José Brites, investigadora do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), refere que “não são só os jovens que procuram conteúdos de entretenimento, também os adultos”. “Nós não vivemos todos os dias e todas as horas colados às notícias”, afirma.
O consumo televisivo está ainda condicionado pela idade: “Os padrões de consumo têm a ver com momentos específicos da vida das pessoas”. De acordo com o professor da UM, o consumo de informação torna-se mais acentuado quando os jovens “precisam de ter acesso a informação para a sua profissão, ou, no mínimo, para conversar com os colegas de trabalho”.

“É óbvio que há novas formas de consumo”, refere o investigador, salientando as mudanças introduzidas pela Internet e as novas “plataformas de acesso a conteúdos via cabo, fibra ou através de uma box” que permitem “ver sete dias para trás ou gravar programas”.

Luís Santos fala de um consumo “em diferido”: “A Internet faz com que as pessoas passem a ver programas televisivos no ecrã do computador”, diz. Também as novas formas de consumo na televisão apresentam um caráter importante já que permitem tornar o consumo “mais apropriado ao estilo de vida de cada um e menos próximo das lógicas de programação dos canais generalistas”.

“Na nossa sociedade falamos em três ecrãs: televisão, computador e telemóvel”, refere Jorge Marinho, docente de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP), acrescentado que “no contexto da atual paisagem mediática, o público pode estar disperso por vários meios de comunicação”.

A quebra no consumo televisivo é geral, mas nos jovens é “mais acentuada”, salienta Luís Santos. Nas gerações mais velhas é menor porque são pessoas com outro tipo de hábitos: “É difícil alterar comportamentos”. A tendência verifica-se noutros mercados, como o “norte-americano e o inglês”.

“Há contextos diversos de consumo e de utilização”

Maria José Brites considera que “a televisão continua a ser um media preponderante no consumo de informação. A Internet, do ponto de vista económico, educativo e cultural, não está acessível a todos os jovens”.

“Criou-se a ideia de que se vive numa sociedade digital, e isso não é totalmente verdade”, sublinha. As pessoas “olham apenas para os contextos sociais nos quais se relacionam, e com pais cujos filhos também só consomem Internet”. A investigadora afirma que assim, “perde-se o olhar sobre aqueles que não têm capacidade económica para terem Internet banda larga”.

Embora os seus estudos não se debrucem especificamente sobre o tema, a investigadora considera que “a televisão continua a ser um media muito importante, não só para os jovens mas também para os seus pais”.

Serviço Digital Terrestre: Uma oportunidade perdida

Luís Santos afirma a “passagem do sistema de difusão para o serviço digital terrestre” como uma oportunidade “perdida” que fez com que as “pessoas tivessem de pagar mais pelo mesmo serviço”. “Basta olhar para Espanha, onde o que existe em canal aberto é uma oferta de mais de 40 canais”, salienta.

“Em Portugal, é preciso pagar para ter alguma variedade na oferta televisiva”, afirma. Face aos interesses económicos, o investigador diz que “os canais generalistas sentem-se forçados a orientar a sua programação para o maior grupo. E, os jovens não são o grupo predominante dos seus telespectadores”, conclui.