Reunir uma agenda de contactos diversificada foi o primeiro conselho que Alfredo Maia deu à audiência. “Hoje os leitores, ouvintes e espectadores são sem dúvida mais exigentes que no passado”, afirmou. Na opinião de Alfredo Maia, é através de uma agenda ampla que um jornalista consegue mostrar os vários lados do mesmo assunto aos seus leitores. “Só assim forma opinião”, acrescenta.

Perfil

Alfredo Maia é jornalista há 32 anos e começou a dedicar-se ao tema “Ambiente” quando esta era ainda uma “área muito verde”. Depois de passar pelo “Primeiro de Janeiro”, Alfredo Maia começou a trabalhar para o “Jornal de Notícias”, em 1988, onde ainda se mantém. Trabalha para a editoria de Sociedade – que engloba a área Ambiente – e é ainda dirigente do Sindicato de Jornalistas.

O jornalista e dirigente sindical, que veio falar de jornalismo especializado em ambiente – tema a que se dedicou durante a sua carreira -, esteve presente no pólo de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), no âmbito do ciclo de seminários em Jornalismo Especializado.

Verificar as informações transmitidas pelas fontes é o segundo conselho: “A área do ambiente trabalha muito com as emoções, talvez mais que o futebol”, disse o jornalista. Para exemplificar, falou do caso da central nuclear espanhola, em Almaraz, perto da fronteira portuguesa: A Quercus denunciou que a central estava a enterrar resíduos nocivos para a Península Ibérica. Alfredo Maia foi verificar a informação divulgada e acabou por perceber que Portugal era responsável por uma maior exploração das minas de urânio e que executava o processo com menos cuidados e condições do que Espanha.

“Os cientistas criticam muitas vezes os jornalistas”

O valor da história

Alfredo Maia diz ainda que “é importante que a história venda”. O jornalista admite que este fator pesa também na produção noticiosa e na definição da agenda. “Se quiser fazer uma notícia sobre o recenseamento de aves, tenho de inventar uma carga de drama”, explica.

“O ambiente como área não é só complexo, é muito diversificado”, afirma. Dentro da área, existe uma diversidade de subtemas, e, perante esta situação, Alfredo Maia diz que é importante que os jornalistas dominem o assunto: “Só podemos explicar aos leitores aquilo que nós mesmos compreendemos”, diz. O jornalista deve procurar informação e documentar-se, falar com investigadores e especialistas que desconstruam o assunto. Em último caso, embora não seja prática comum, o jornalista pode mesmo submeter o seu trabalho a revisão científica.

Mas há outros obstáculos que se impõem. “Não há espaço e esse é o inimigo do jornalismo geral e do especializado”, disse ainda. A falta de espaço, segundo o jornalista, põe em causa não só o jornalismo, mas também a sua qualidade. “Os cientistas criticam muitas vezes os jornalistas por escreverem com muita celeridade e leveza”, afirma, revelando que muitas fontes ficam “frustradas” depois de lerem as notícias. “Tenho trabalhos de páginas para publicar desde novembro”, confessou.