O Youtube é uma plataforma popular entre os utilizadores, que aí encontram um espaço de exposição viral. Entre os vídeos caseiros publicados, os “youtube challenges” parecem ser populares. Mas alguns destes concursos podem pôr em risco a saúde dos participantes.

Num vídeo, três amigas “aspiram” um preservativo pelo nariz para depois o tirarem pela boca. “O meu está a sangrar”, diz uma delas. Pouco depois, outra começa a vomitar. Este é só um dos milhares de vídeos publicados no Youtube, na sequência de um concurso chamado “Condom Challenge”.

Neste desafio, os participantes devem inspirar o preservativo para depois o retirar pela boca, algo que pode trazer consequências, como uma sinusite grave ou uma obstrução pulmonar – e até mesmo podendo ainda ser fatal, caso o preservativo se encaminhe para os pulmões.

Mas o “Condom Challenge” é apenas mais um, de um leque variado de concursos. O “Cinnamon Challenge” propõe, por sua vez, que os participantes ingiram uma colher de sopa de canela, sem água, e com um tempo limite de 60 segundos. No site, pode ler-se: “O Cinnamon Challenge pode ser perigoso e não deve ser encarado de ânimo leve. Vai queimar, vais tossir e lamentares teres tentado”. Mais de 40 mil pessoas publicaram a experiência no YouTube.

O “The Knife Game Song“, ou jogo musical das facas, convida os participantes a espetarem uma faca entre os dedos, ao ritmo de uma música cantada progressivamente mais rápido. A moda dos “YouTube Challenges” deu ainda origem a um site chamado “10 YouTube challenges we dare you to take“, onde são lançados outros desafios: comer uma cebola ou beber um garrafão de leite em 60 segundos.

“Um sentimento muito forte de exibicionismo”

Maria do Carmo Carvalho, docente na área da Psicologia, explica ao JPN que podem ser vários os fatores na base deste fenómeno, entre eles alguma “imaturidade” ou ainda a vontade de “pôr à prova certos limites” – “um processo que é frequentemente explicado como integrante do processo de construção da identidade” dos jovens. Pedro Barbosa, sociólogo e investigador científico, concorda, referindo ainda “um sentimento muito forte de exibicionismo” por parte dos adolescentes.

O facto de se tratar de uma prática amplamente disseminada na Internet potencia, por outro lado, que seja “replicada e tomada como dominante por via da sua forte mediatização”, situação neste caso “particularmente gravosa”, afirma Maria do Carmo. Pedro Barbosa também admite que este fenómeno é um reflexo negativo da relação dos jovens com as redes sociais, embora considere importante “desmistificar” esta questão – “Não podemos atribuir unicamente a culpa às redes sociais uma vez que elas se limitam, pura e simplesmente, a ser o palco de exibição destas ações. A natureza humana continua, e continuará sempre, a ser o factor decisivo”, sublinha.

Solução pode passar por uma “vigilância eficaz”

“Para lidar com situações como esta, podemos apostar em pelo menos duas estratégias”, explica a docente: por um lado, “enquanto utilizadores das redes sociais, contribuir para a denúncia de situações perigosas que as próprias redes sociais incentivam” e, por outro através de “estratégias de supervisão parental que previnam o mau uso” das redes sociais, conclui.

Pedro Barbosa considera difícil sensibilizar os jovens para o risco inerente a estas práticas. “Muitas vezes eles estão conscientes desses mesmos perigos mas continuam a incorrer neles”, esclarece. A solução, diz ainda Pedro, pode passar por uma vigilância mais eficaz da parte dos “administradores das próprias redes, ao impedirem que seja feito o upload de vídeos com este cariz”. “Se dificultarem ao máximo a divulgação destas práticas elas pura e simplesmente perderão grande parte da sua magia”, conclui.