Depois do seu estado de saúde piorar consideravelmente devido a uma queda, no início do mês, Christian de Duve, de 95 anos, recorreu à eutanásia para pôr termo à vida. Apesar da família só esta segunda-feira ter vindo a público dar a notícia, o falecimento do Nobel oriundo da Bélgica, onde a eutanásia é legal, ocorreu no passado sábado.
A de Duve foi atribuído o Nobel da Medicina em 1974, pelas suas descobertas na área do cancro e da estrutura e funcionamento das células. Aos jornais do país, colegas e amigos disseram que o médico sofria de vários problemas de saúde, agravados com uma queda na sua residência.
Eutanásia na Europa
A eutanásia continua a ser um tema delicado. A Holanda foi o primeiro país a permitir a morte medicamente assistida (2002), desde que seja por vontade expressa do doente e em casos de doenças terminais ou sofrimento físico considerado insuportável e atestado pelos médicos. A Bélgica seguiu-lhe o exemplo. Na Suíça, o suicídio medicamente assistido é permitido desde que se garanta que a equipa médica não tem interesses na morte. Em Portugal, o testamento vital foi aprovado no ano passado. Nesse documento, as pessoas podem expressar os tratamentos a que querem ou não ser sujeitas quando percam a capacidade de decisão.
O belga quis tomar a decisão enquanto tinha capacidade para isso e esperou apenas pela chegada do filho, residente nos Estados Unidos, para tomar a injeção, junto da família. No último mês, endereçou várias cartas a amigos e colegas a informar a sua decisão. A filha, em declarações ao jornal “Le Soir”, contou que o pai se recusou a tomar qualquer medicação para controlar a ansiedade e que foi um momento totalmente sereno.
Christian René de Duve nasceu a 2 de outubro de 1917, em Inglaterra. Os pais, belgas, foram obrigados a fugir para perto de Londres devido à I Guerra Mundial, mas regressaram ao país de origem assim que os conflitos terminaram. Dedicou toda a sua vida profissional à ciência e à investigação médica, tendo alcançado diversos resultados em áreas como a genética ou o cancro.
O médico foi, assim, a segunda figura pública da Bélgica a recorrer à morte medicamente assistida, depois do escritor Hugo Claus, em 2008.