Em abril deste ano, o Governo brasileiro anunciou o cancelamento de bolsas concedidas aos estudantes que quisessem estudar em Portugal no âmbito do programa Ciência Sem Fronteiras. A justificação apresentada pelo Ministério da Educação do país foi a de que “os estudantes têm que enfrentar os desafios da segunda língua. Por isso, todos foram convidados a migrar para outros países”.

Na opinião de Mel Aguiar, natural do Rio de Janeiro e a estudar atualmente Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, esta medida “está totalmente errada”. A jovem estudante de Erasmus compreende que é necessário apostar noutra formação e na aprendizagem de outros idiomas, visto que no Brasil “são poucas as pessoas que sabem falar inglês ou outras línguas”. Contudo, isso “deveria ser mudado ainda no Ensino Básico” e não no Ensino Superior, porque, assim, o Governo está a tirar mais bolsas e mais oportunidades aos alunos.

Juliana Diógenes, estudante de pós-graduação em Jornalismo Literário na Academia Brasileira de Jornalismo Literário, acredita que o Governo brasileiro quer, com esta medida, “forçar os seus estudantes a dominarem uma nova língua – inglês e francês, principalmente – para que, assim, o país se vá inserindo, aos poucos, no mundo globalizado, onde uma das maiores exigências é a pluralidade linguística”.

O estudante deveria ter o poder de decidir

Apesar de considerar a medida positiva neste sentido, a jovem licenciada em Jornalismo acredita que um investimento não deve excluir ou anular outro, essencialmente pelas “relações histórico-culturais entre Portugal e Brasil”. A estudante entende que o Governo brasileiro deveria rever esta medida, de forma a que pudesse ser o estudante a decidir.

Na opinião de Juliana, existe uma “prioridade para os cursos nas áreas das ciências exatas que possam fortalecer o desenvolvimento tecnológico e científico do país”, na medida em que o objetivo do Governo brasileiro é investir na educação dos seus jovens noutros países, para que, depois, voltem para o Brasil e implementem os conhecimentos que aprenderam.

Mel Aguiar concorda com a perspetiva de Juliana, acrescentando que, quando o Governo brasileiro decide financiar estudos fora do país, espera que, depois do intercâmbio, os alunos retornem ao Brasil, trazendo consigo os conhecimentos que adquiriram ao longo da aprendizagem. Contudo, isso nem sempre acontece e os estudantes “acabam por ficar no país onde decidiram estudar, por motivos de trabalho ou simplesmente por motivos pessoais”.