Na início da década de 90, as salas de cinema multiplex conduziram ao encerramento das salas clássicas no centro da cidade. Entre as que fecharam, algumas mantiveram-se "intocadas".

Os cinemas multiplex chegaram em força com as grandes superfícies comerciais. Além de projetarem com melhor qualidade visual e sonora, os novos cinemas transmitiram diversos filmes e a diferentes sessões por dia. Estas potencialidades dos multiplex conduziram os cinemas clássicos do centro da cidade a uma situação inevitável: o encerramento. A partir daí, algumas salas reabriram, outras desapareceram mas algumas, depois de fecharem portas, permaneceram intocadas. Hoje, vinte anos depois de terem encerrado, ainda mantém plateia e o equipamento de projeção.

O Estúdio Foco

Ilustrações de Sara Pimenta e Susana Barbosa

Situado no Foco, junto ao já encerrado Hotel Tivoli, o Estúdio Foco abriu portas ao público no dia oito de novembro de 1973, depois de uma apresentação à imprensa no mês de outubro. Era uma das salas de cinema classificada como “estúdio”, por ter uma menor capacidade de lotação que os cinemas clássicos. Enquanto um cinema clássico como o Coliseu podia receber mais de 3 mil espectadores, o Estúdio Foco tinha uma capacidade para 428 lugares sentados.

Menos espaço, mas mais conforto. Tal como nos explica João Paulo Lopes, projecionista e especialista em cinema, as cadeiras do Estúdio Foco eram do tipo “mecânico, de acordo com o peso do espetador baixavam, enquanto as vazias ficavam mais altas”. O Estúdio Foco estava equipado ainda com projetores Phillips de 35 e 70 mm, equipamento que ainda lá está. Reunia as condições para que, em pouco tempo, se tornasse uma das salas mais apreciadas da cidade.

Explorado pela Lusomundo, o Estúdio Foco passava filmes “mais seletos”. Na década de noventa, depois de grande parte dos cinemas do Porto terem encerrado, o Estúdio Foco foi uma das salas de cinema que se conseguiu manter apesar da tendência. Encerrou, por fim, em 1993. Hoje, encontra-se de portas fechadas mas ainda mantém a plateia e equipamento, embora ambos se encontrem em muito mau estado devido à humidade.

Cinema Pedro Cem

Ilustrações de Sara Pimenta e Susana Barbosa

O Cinema Pedro Cem foi inaugurado nos anos 80. Situado na Rua Júlio Dinis, na galeria comercial com o mesmo nome, começou por pertencer a um privado mas depois a Lusomundo tomou conta do espaço. Os filmes que passavam eram comerciais.

Segundo Mário Dorminsky, diretor do Fantasporto, o espaço “era uma sala de pequena dimensão com 350 lugares, e durante os seus primeiros anos de atividade ainda atraiu algum público”. No entanto, com a abertura dos multiplex nos anos 90, “o cinema não conseguiu acompanhar a evolução e perdeu a audiência”, encerrando em 1995.

Mário Dorminsky afirma ainda que “o Pedro Cem, foi um cinema que foi morrendo logo à nascença. O ecrã devia ser mais levantado, porque como estava não se via. O chão era plano e o posicionamento das cadeiras também era problema”, explica o diretor. “Mesmo quem não era pequeno tinha sempre cabeças à frente e isso atrapalhava completamente a visão e concentração no filme”, recorda.

A gerência do espaço ainda realizou algumas iniciativas diferenciadas para promover o Pedro Cem. “Ainda fizeram ligação aos Óscares e realizaram uma série de iniciativas diferenciadas” mas nunca nunca conseguiram garantir uma continuidade de públicos que permitisse equilibrar financeiramente os custos com as receitas.

Cinema Charlot

Ilustrações de Sara Pimenta e Susana Barbosa

O Cinema Charlot, hoje fechado, localiza-se no interior do Shopping Center Brasília, na Boavista. Este shopping, na Praça Mouzinho de Albuquerque, ou Rotunda da Boavista, foi inaugurado em 1976 e é o shopping mais antigo da Península Ibérica.

O Cinema Charlot, no segundo piso do shopping e inaugurado em 1977, e era uma sala muito moderna para a época, que acolhia mais de 400 espetadores. Os assentos eram confortáveis, e a sala contava com dois camarotes. Parecida a uma sala de cinema como nós a conhecemos hoje, o Charlot exibia filmes da atualidade para o público portuense.

Com a construção de novos centros comerciais na área do Porto, nos anos de 90, o Shopping Brasília começou a perder clientes – e o Charlot espectadores. Não conseguindo resistir à concorrência, o Cinema na Boavista teve que fechar as suas portas em 2001. Reabriu, exibindo uma exposição para um breve espaço de tempo, em 2006, no âmbito da comemoração dos 30 anos do Centro Comercial.

Neste momento o cinema está encerrado, mas sem qualquer modificação. A agência IPB, dona do espaço, abriu-nos a portas, para poder contemplar a grandeza do Charlot que antigamente juntava as famílias do Porto para um serrão de cinema. A sala está intacta, embora coberta de pó, após tantos anos fechada.