“Como é que alguém que é deficiente visual pode escolher a sua roupa?”, pensou Madalena Sena, investigadora da Universidade da Beira Interior (UBI). A dúvida e a procura de uma solução levaram-na a desenvolver um projeto que lhe valeu dois prémios de empreendedorismo: etiquetas de roupa em Braille – sistema de escrita e leitura para pessoas com deficiência visual.

As etiquetas permitem que os deficientes visuais “possam escolher a cor da t-shirt ou da roupa sem a ajuda de ninguém” e, para além disso, “em casa, é só chegar ao armário e já sabem que roupa vão usar”, garante Madalena Sena, em entrevista ao JPN.

Este projeto, segundo a própria criadora, permitiria que estas pessoas fossem “autónomas”, no que diz respeito a questões como vestir. No entanto, falta o financiamento para que o projeto possa avançar. Madalena não baixa os braços e promete continuar à procura de uma empresa que “pegue neste projeto”, que é “mais social do que outra coisa qualquer”. Um parâmetro que pode estar a dificultar o financiamento.

Em Portugal, existe uma minoria de pessoas com deficiência visual em comparação com a ͍ndia, por exemplo, e “este projeto não daria muito lucro”, adianta Madalena Sena. No entanto, refere, “esta minoria tem exatamente os mesmos direitos que as outras pessoas”.

“São vitórias para os leitores de braille mas não necessariamente para as pessoas com deficiência visual”

Contactado pelo JPN, Peter Colwell, técnico de acessibilidade da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), não conhece o projeto mas tem “algumas dúvidas sobre a sua utilidade” e sublinha que imprimir Braille em tecido é um “processo moroso e bastante caro”.

“Uma etiqueta em papel ou cartolina presa com um fio ou alfinete na loja” seria uma boa opção, mas com um uso limitado, já que “são poucas as pessoas com deficiência visual que vão procurar roupa sozinhas, nos cabides de uma loja”, diz.

O técnico de acessibilidade da ACAPO diz ainda que projetos como este são, de facto, “vitórias para os leitores de braille, mas não necessariamente para as pessoa com deficiência visual”, uma vez que existem muitas pessoas que “não conseguem ler braille”, assegura.

Acima de tudo, o projeto pretendia “colorir” a vida das pessoas com deficiência visual e tinha tudo para “vingar e ajudar”, acredita Madalena. Seja qual for a razão, “timing ou crise”, a ideia está na gaveta à espera de melhores dias.