O primeiro prémio, no valor de 15 mil euros, não deixa ninguém indiferente mas o reconhecimento neste Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto (IUP25K) também é importante. Que o diga Hélder Crespo, do projeto “Sphere Ultrafast Photonics”, que segura, orgulhoso, o cheque gigante – e simbólico – do primeiro lugar.
O tema do projeto não é fácil para os leigos na matéria, mas uma conversa com a dupla de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) – Rosa Muñiz acompanha Hélder no trabalho e na conquista -, esclarece as dúvidas mais prementes. O objetivo é o desenvolvimento do “D-Scan”, um sistema capaz de medir e controlar a precisão de lasers ultracurtos – tão curtos que são “as coisas mais curtas do mundo”, conta Hélder.
Estranho aos leigos, magnânimo na indústria
O interesse nestes “flashes de luzes” supersónicos surgiu não só porque “os lasers estão por todo o lado e o seu impacto é inegável” mas porque, de facto, já “existem lasers mais avançados que as tecnologias que os permitem controlar”. Esta solução já permite e, mesmo estranha a quem não está dentro do assunto, responde a uma necessidade premente do mercado e que pode fazer a diferença na medicina e na indústria.
Depois de 12 anos a investigar na área, a equipa está consolidada e a ideia tem “tudo para andar”, diz Rosa. Agora, é aproveitar os contactos com as empresas que já se mostraram interessadas, guardar a patente que já têm (e a que esperam conseguir) e aplicar o dinheiro na produção. Este prémio veio fazer toda a diferença.
Mas na liga do IUP25K, nem todos são quase-empresas. Aqui, a competição ainda não é de produtos acabados, mas essencialmente de ideias e a AdaptTech apresentou uma das melhores. Valeu o segundo lugar (e cinco mil euros), apesar das poucas expectativas da equipa.
Facilitar a vida dos utentes, apurar o método dos técnicos
Pedro Costa, João Martins e Frederico Carpinteiro são estudantes de quarto ano na Faculdade de Engenharia e querem desenvolver um sistema, através da análise 3D, que permita uma melhor adaptação da prótese ao coto, em doentes amputados.
O objetivo do grupo é contrariar a tendência de 90% dos paciente com próteses, que se queixam de problemas de adaptação, evitando a “avaliação subjetiva” entre técnico e utente, feita sem recurso a qualquer tecnologia. O diagnóstico vai ser mais personalizado, menos falível e ainda evita coisas tão simples como “as constantes deslocações do utente aos Centros de Reabilitação [nem sempre perto de casa]”, conta Pedro.
A meta não é ficar-se pela ideia mas culminar com a oferta de um “serviço funcional” a instituições privadas e estatais. Este prémio é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada, mas que pode dar frutos em breve.
“Alguma vez te perguntaste o que está a acontecer à tua volta?”
A Taggeo, uma rede social de geolocalização, conquistou o terceiro lugar. A ideia é simples: uma aplicação que faz sugestões sobre o que se está a passar à nossa volta, tendo em conta o que nos interessa – tipo: “Está a acontecer uma festa académica, a 20 metros daqui. Há cervejas de borla” – e que ainda nos permite deixar mensagens virtuais num determinado local e que podem ser lidas por outra pessoa, com a aplicação, que passe exatamente pelo mesmo sítio – uma espécie de: “Este restaurante [aquele em que nos encontramos] tem o melhor sushi da cidade”. Para além disso, novas funcionalidades oferecem aos utilizadores a possibilidade de participar em peddy-papers, rotas sugeridas e desafios.
A ideia de Mariana Teixeira, Tiago Fernandes e Rúben Ribeiro nasceu em 2007, amadureceu até hoje e foi lançada – a primeira versão – em janeiro. Em cinco meses, “sem qualquer tipo de marketing”, já conquistou seis mil utilizadores e a equipa tem perspetivas de alargar o projeto a território brasileiro. Depois desta distinção, que se junta a outras, pode dar novidades já este mês.
Alguns casos com “um sucesso incrível”
O concurso
No IUP25K, depois da inscrição e seleção, há várias etapas que os concorrentes têm de ultrapassar. À final chegam 10 projetos que, na sessão de encerramento, têm de fazer uma apresentação de cinco rigorosos minutos. O júri, multidisciplinar, dá o veredicto no final. São atribuídos três prémios: o primeiro, de 10 mil euros em capital social mais cinco de incubação e mentoring; o segundo e o terceiro, ambos de cinco mil euros. Há ainda o prémio do público – escolhido pela plateia – que, este ano, foi atribuído ao projeto “Street4all”, apresentado por Hugo Vilela.
Pelo caminho, no IUP25K, ficaram outras seis ideias mas as oportunidades não se esgotam com a final do concurso. Sofia Monteiro é representante da Beta, uma sociedade de capital de risco do Porto, que financia start’ups inovadoras, e já é presença assídua na plateia. “Gostamos de vir para perceber o que de melhor se faz nas universidades para, se um dia se tornarem negócios, nós sermos um investidor”, explica.
Diz que todos têm a ganhar e que um dos requisitos mais importantes a ter em conta, para além da ideia, é “a equipa”: “É essencial que seja dedicada ao projeto, que tenha confiança nele e que tenha algum conhecimento do mercado”.
Mas para além de potenciar novas ideias, este concurso “potencia a própria universidade”. Quem o diz é Filipe Castro, do UPIN. Assim, o objetivo é “incentivar as pessoas com ideias a apresentá-las, trabalhá-las e a convertê-las num negócio”. Pode nunca chegar a acontecer – “é normal que assim seja” – mas em alguns casos acontece “com um nível de sucesso incrível”.
Esta foi a 4.ª edição do IUP25K, Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto. A iniciativa partiu da UPIN, do Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto (CEDUP) e, mais recentemente, da StartUP Buzz. Na final, que decorreu esta sexta-feira, estiveram presentes Francisco Laranjo, diretor da Faculdade de Belas Artes do Porto (FBAUP) – que acolheu o evento -; Carlos Brito, pró-reitor para a Inovação e Empreendedorismo da UP; Marcos Ribeiro, diretor do Santander Universidade e António Fidalgo.