“Mudanças com Arte” é o mais recente projeto da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), que tem como objetivo desmistificar as diferenças de género ainda existentes na sociedade.
Cecília Loureiro, psicóloga, é responsável por um estudo “em desenvolvimento” para o Mudanças com Arte, sobre comportamentos de violência no namoro. A consciencialização para a igualdade passa por várias etapas: “Em primeiro lugar, realizamos um inquérito, um pré-teste. Depois fazemos cerca de 15 sessões de estudo e sensibilização nas escolas, e, por fim, fazemos outro inquérito. Temos notado que a consciencialização para a violência é na ordem dos 15%. Já é muito bom!”, diz a psicóloga ao JPN.
O que mais surpreendeu a investigadora foi o facto de os jovens “banalizarem e acharem normal comportamentos violentos, como o controlo da roupa que os parceiros usam e a falta de privacidade entre namorados”. Prova disso é que “50% das jovens entrevistadas acham normal que o namorado as proíba de vestir certas roupas”.
Resultados “surpreendentes” e “assustadores”
O inquérito, feito a estudantes de escolas do Norte, revela outros resultados “surpreendentes”.
Humilhar verbalmente o parceiro não é violento “para 13% das raparigas e 25% dos rapazes”, e “é assustador o número de jovens que acham que dar uma bofetada não é assim tão mau”, revela Cecília Loureiro.
Relativamente às razões pelas quais os jovens suportam namoros violentos, a psicóloga aponta “a dependência emocional, a falta de afetos”. “Há jovens que preferem ter um namoro violento do que não ter nada. A desestruturação emocional está presente também nas crianças. Custa-me ver crianças e jovens carentes de um toque, um carinho, uma palavra amiga”, refere.
Media contribuem para os estereótipos
A comunicação social também contribui para a manutenção de estereótipos “nos filmes, nas telenovelas e na publicidade. Nos anúncios, é sempre a mulher a lavar a roupa, por exemplo”. Cecília Loureiro nota que, “para se afirmarem”, muitas jovens “têm comportamentos violentos, para serem iguais aos rapazes”. “Não devem ser educadas para isso. As raparigas devem usar formas de se afirmarem sem recorrer à violência. Por uma sociedade mais pacífica. É isso que defendemos”, afirma Cecília Loureiro.
“Não é só bater que é violência”
A Associação de Mulheres contra a Violência (AMCV) luta pela igualdade de género desde 1993. Alberta Silva, membro da AMCV, diz ao JPN que “os padrões culturais permitem que a violência continue a existir”. Para Alberta Silva, “o essencial é que os jovens tomem consciência dos seus direitos, pois ninguém pode privar ninguém de nada, mesmo entre namorados. Faz falta uma educação que apele à consciência individual”. Sobre violência no namoro, a entrevistada é perentória: “A violência no namoro é diferente da violência doméstica. Para começar, os namorados não coabitam na mesma casa”.
A educação dos jovens também dificulta a consciencialização, pois os namorados “aceitam desculpas que os privam de liberdade. Desculpas como se faço isto é porque gosto de ti, ou és minha e não de mais ninguém”.
Para Alberta Silva, “não é só bater que é violência. Existe um tipo de violência, mais comum do que parece, mesmo entre namorados, que é a violência sexual. Obrigar alguém a manter relações ou práticas sexuais que não aceita não é uma prova de amor”. A violência psicológica também faz vítimas. Hábitos como “humilhar o parceiro em público, proibir de ir a uma festa, e invadir as redes sociais e os telemóveis, privam a liberdade de cada um”.