Candidato à Câmara do Porto pelo Bloco de Esquerda e autor do movimento “E se virássemos o Porto ao contrário?“, José Soeiro apresentou a campanha, apelou à participação política e discutiu os problemas da cidade. O candidato foi mais um dos oradores do ciclo de conferências do seminário de Comunicação Política – “Eleições Autárquicas no Porto: Candidatos e Comunicadores Políticos” – organizado pelo Mestrado em Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
Começou por criticar o “clima social de violência muito forte, em especial com a população mais pobre” e deu como exemplo “a erradicação dos arrumadores ou o negócio imobiliário do bairro do Aleixo”, que afeta o Porto, e defendeu os “princípios da democracia participativa”.
Abordando um dos temas que mais se discute na cidade, falou da “centralidade de uma política sobre a habitação e reabilitação urbana”, que permita “casas a preços assessíveis a partir do investimento público na recuperação”. Pediu ainda “especial atenção às desigualdades do emprego e da emergência social, numa cidade onde há pessoas que não têm acesso a luz e a água porque não têm dinheiro para pagar”.
“Fazer uma candidatura diferente”
Por estas e por outras razões, esta vai ser uma campanha, segundo José Soeiro, em “três aspetos”. Primeiro, trata-se de uma “campanha artesanal”: “Foi construída com as nossas mãos, em que os materiais, os cartazes, os folhetos são arranjados e feitos por nós”, conta. Segundo, é uma “campanha aberta”. “Quem não está de acordo tembém tem direito a manifestar a sua opinião, queremos envolver na nossa campanha pessoas que certamente não estão de acordo connosco”, explica.
Por fim, diz, é uma campanha que tem por base o caráter. “Queremos uma campanha que seja não apenas uma reivindicação sobre políticas culturais, mas que seja já uma forma de intervenção cultural da cidade, por exemplo. Para isso, vamos usar cartazes feitos por ilustradores, editar livros, fazer teatros de rua e programação cultural”. O objetivo, no final, é que a propaganda eleitoral não seja “seja já uma prática transformadora”.
Como fonte de inspiração, teve o movimento “Occupy”, em Wall Street e as “mobilizações no Porto contra a austeridade”. Assim, a campanha não pretende apenas ser “uma declaração de intenções” – pelo contrário. Assenta, sim, na “importância de as pessoas conversarem e se entenderem sobre alguns pontos essenciais para a cidade”.
Movimento Occupy
O movimento Occupy Wall Street foi um protesto que se iniciou a 17 de setembro de 2011, em Nova Iorque. A estratégia do movimento consistia na ocupação constante de Wall Street, o setor financeiro de Nova Iorque, para lutar contra a desigualdade económica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas no Governo dos EUA.
Apostar na “diversidade de linguagens”
A arte é um dos pontos fortes da campanha, da qual fazem parte alguns artistas, como a rapper portuense Capicua. Através dos sentidos, a “comunicação chega a mais gente” e José Soeiro não hesita em afirmar que “a arte é uma das formas através das quais se faz política”. Recorrer à “diversidade das linguagens, como o teatro, a música e a pintura”, vai criar uma “importante relação com as pessoas”, acredita.
De modo a não reproduzir a lógica de que o “povo é cenário para a fotografia do candidato”, a candidatura do Bloco vai incluir “discussões, tertúlias e debates, reuniões e convívios”. “A troca de opiniões e a partilha de experiências faz com que o povo não seja o espectador passivo do espetáculo eleitoral”, afima o candidato. E garante: “Não vamos cruzar os braços”.
A necessidade de “reinventar a cidade” está presente numa campanha onde “dirão que estamos loucos, mas é preciso quebrar rotinas”, conclui.