Já passava das 17h quando o recinto da segunda edição do Optimus Primavera Sound abriu ao público. Coroas de flores, chapéus de palha e até toalhas de pic-nic começaram a integrar o público no espírito do festival. Aproveitando o bom tempo, os festivaleiros não desperdiçaram o sol de fim-de-tarde e sentaram-se no relvado à espera dos primeiros concertos.

Acompanhados por amigos e por um cálice de vinho ou uma cerveja, a colina verde do Parque da Cidade transformou-se numa colina de gente. De noite, especialmente durante os concertos, a escuridão tornava propícios os “atropelos” e calcadelas entre quem procurava um lugar e quem já estava confortável no relvado.

Nick Cave e James Blake: os mais aguardados

Nick Cave & The Bad Seeds e James Blake eram os nomes mais esperados. Aquando da subida ao palco encontraram um relvado em polvorosa. Mãos no ar receberam o cabeça de cartaz do primeiro dia, que depressa respondeu com “We Know Who U Are”. A partir daí, abriu-se o caminho para cerca de uma hora de alternações de um rock variável, grunhido e sussurado.

A alternância entre músicas mais calmas e as malhas mais fortes foram acompanhadas pela bipolaridade sinfónica das guitarras – ora melancólicas, ora agressivas. O contacto com o público foi evidente em “crowdsurfs” múltiplos e músicas cantadas em conjunto.

James Blake, compositor britânico, subiu ao palco Optimus para terminar a noite. Num encontro a três, entre Blake, o guitarrista Rob McAndrews e o baterista Ben Assister, o recinto foi preenchido com tons electro e R&B. Em “The Wilhelm Scream”, os fãs nas primeiras filas cantaram o verso “I’m turning, turning, turning”, em conjunto com o compositor. Já “Limit to your love” deixou os fãs ao rubro, naquela que foi a recta final do primeiro dia. .

Foi ao som de “Retrograde”, o mais recente single do compositor, que James Blake se despediu dos fãs, eram já 3h da manhã. Durante a atuação, James Blake agradeceu várias vezes aos fãs e disse que era um prazer estar de regresso a Portugal

Movimentos migratórios entre palcos

Sem concertos em simultâneo, o primeiro dia do festival fez questionar a existência de um palco secundário. Com o fim dos concertos no palco principal (Palco Optimus), vê-se, do topo da colina, um exôdo disforme em direção ao palco secundário (Palco Super Bock).

O concertos começaram ao fim da tarde, com a banda espanhola, Guadalupe Plata, reponsável pela inauguração do festival. Eram 18h quando se fez ouvir a mistura de blues e punk. Menos de uma hora depois, os Merchandise tocavam para uma plateia com a toalha estendida ao sol.

Pelos palcos, à medida que escurecia, foram passando várias bandas. O pop sintetizado dos Wild Nothing surpreendeu alguns, que confessaram o agrado com a banda norte-americana. A transição para o próximo concerto deu-se no outro palco com as “The Breeders“, que apresentaram “Last Splash”, o álbum que celebra o 20.º aniversário da banda. Com um português mal fraseado mas bem acolhido, conquistaram o público com a música e a simpatia.

Minutos depois, no palco Super Bock, os Dead Can Dance. Um ambiente intimista, embalado pelas vozes de Lisa Gerrard e Brendan Perry que, apesar de pouco expansivos, provaram que a banda renascida em 2012 ainda é capaz de atrair a atenção de uma plateia.

A noite no palco secundário fechou com os Deerhunter. Sons eléctricos encheram o recinto e subiram colina acima.

Voluntariado num festival com múltiplos idiomas

Dentro do festival, as barreiras linguísticas ultrapassam-se com o inglês, que permitiu a comunicação entre os que vieram dos vários cantos do mundo. A certa altura, as línguas nativas confundem-se: “Olha, sabes quanto custa… Sorry, I was speaking in portuguese [desculpa, estava a falar em português]”, desculpa-se uma portuguesa, a um estrangeiro que a companhava.

Para já ainda não há números certos sobre a afluência de público estrangeiro, mas as expectativas face ao ano passado mantêm-se. Na primeira edição do Optimus Primavera Sound, 7 em cada 10 espectadores vinha do estrangeiro.

Há ainda quem junte o útil ao agradável e esteja no festival a trabalhar e a assistir aos concertos. Inês Almeida tem 22 anos, é voluntária, e depois do trabalho aproveita para ficar pelo recinto. Ao JPN, confessa que o voluntariado serve como “forma de vir ao festival sem pagar”. Durante a atuação de The Breeders, Inês já estava sentada em frente ao palco Optimus à espera que James Blake encerrasse a primeira noite.