No último dia do festival, My Bloody Valentine e Explosions in the Sky foram os nomes que mais fãs trouxeram ao recinto do Primavera Sound. A opinião de quem foi aos três dias de festival é consensual: o rock dos My Bloody Valentine, cabeças de cartaz de 1 de junho, não foi suficiente para suplantar a excentricidade de Nick Cave nem o desfile entusiasta de êxitos dos Blur.

Nos palcos secundários, público espanhol não faltou a Los Planetas, a banda indie que se tem tornado uma lenda da música espanhola. Os portugueses PAUS, apresentaram-se no ATP como uma surpresa para alguns e uma confirmação de qualidade para o público que já lhes é familiar.

My Bloody Valentine versus Dan Deacon

Ainda não eram 1h20 quando o grupo de Dan Deacon subiu ao palco e começou a andar agitadamente de um lado para o outro. A essa hora já se ouviam à distância os primeiros acordes de My Bloody Valentine mas um grupo de fãs leais do compositor americano continuava à espera. “Estamos com problemas técnicos”, explicou Dan Deacon a um recinto longe de estar cheio. “Tínhamos tudo naquele computador há meses e ele decidiu “lixar-nos” no último concerto da nossa tour”, continuou o compositor. Felizmente, os problemas foram resolvidos sem demora e Dan Deacon teve oportunidade para demonstrar a sua mestria em palco.

Embebido numa música animada, que recorreu a sintetizadores em delírio e uma percussão agressiva, Dan Deacon pediu aos fãs para fazer um círculo no meio do recinto e para dançarem no centro. A animação não parou aí e não tardou até se formar um longo comboio humano que se estendeu pelo recinto . A partir desse momento, a humilde multidão que se tinha juntado no início do concerto já era capaz de encher o Pitchfork.

Numa combinação imensa de luzes intensas e de música alegre, os fãs saltaram e dançaram durante quase uma hora e nem se aperceberam que o concerto estava a chegar ao fim. Muitos saltaram a barreira que separava a área destinada ao público do palco. No fim, a opinião do público foi consensual: o concerto terminou demasiado depressa. Apesar dos pedidos para que o compositor regressasse ao palco, as luzes não se voltaram a acender.

Enquanto isso, junto ao palco principal os My Bloody Valentine assistiam à “fuga” de um público que começou recetivo, mas que não se deixou agarrar pela banda irlandesa de rock alternativo. Pouco comunicativos, levaram o público a um estado de apatia. Junto ao portão, eram já alguns os que aproveitavam para seguir viagem para casa enquanto que, na relva, as palmas esmoreciam, apesar do volume ter aumentado. Aparentes problemas técnicos fizeram também com que a voz fosse pouco audível, submissa ao som das guitarras, baixo e bateria dos My Bloody Valentine.

O céu explodiu em português

Eram 22h45 quando a banda texana, Explosions in the Sky, subiu ao palco Optimus e se dirigiu em português ao mar de gente que se juntava na colina. “Boa noite, nós gostávamos de falar em português”, explicou um dos guitarristas da banda. “Nós somos Explosões no Céu”, acrescentou, antes de dar os primeiros acordes na guitarra.

Num momento em que quatro guitarras se encontraram em palco na companhia de uma bateria, os Explosions in the Sky não precisaram de voz para levar o público ao extâse. Ao longo de quase uma hora, a banda norte-americana intercalou acordes bruscos com outros mais calmos mas que asseguradamente puseram muitas cabeças a abanar e fãs a dançar. Os que não dançaram e se juntaram em frente ao palco, estenderam a sua toalha ao longo da vereda da colina e assistiram de longe ao concerto.

Bandas ibéricas surpreendem

“Não sei se já repararam que falamos português”, disseram os PAUS, vindos da edição catalã do Primavera Sound. Pela frente, no palco ATP, encontraram uma colina preenchida com velhos jovens fãs e, ainda com o sol no céu, puseram muitos aos pulos na relva. Com a toalha em forma de capa, um jovem, aos saltos, parecia querer levantar vôo, à medida que as batidas gémeas de dos paus alternavam.

Horas mais tarde, vindos do outro lado da fronteira, os “Los Planetas” pousavam o vaivém no palco Super-Bock. A afluência de espanhóis ao festival tornou-se, aqui, evidente. Junto ao palco eram muitos aqueles que aproveitaram a oportunidade para cantar na sua língua materna.

Em palco, estiveram ainda alguns nomes, portugueses e estrangeiros, que deram força ao cartaz deste ano. The Glockenwise, Dinossaur Jr., White Fence e Liars.