“A ideia surgiu quando, ao ouvir e comentar um discurso do Passos Coelho no Twitter, fiz dois ou três tweets numa linguagem a que chamei “passês”, ou seja, palavras sonantes e muitas vezes desconexas que forma um discurso em geral contraditório”. Assim nasceu a Passos_PM e a “arte” de falar “passês”. A conta, que já angariou mais de 1600 seguidores, tem tido uma aceitação “bastante boa”: “Tento fazer algo com piada e as pessoas têm aderido”, esclarece.

A página chegou ao outro lado do Atlântico, quando, nos Estados Unidos, foi tida como oficial e citada, no twitter, por Edward Harrison, do site de especialistas em economia e finanças, Credit Writedowns. Alguns minutos depois, a mesma mensagem era “retwittada” pelo repórter Charles Forelle, do Wall Street Journal. A réplica da mensagem foi, para Nuno Salgueiro, uma “surpresa hilariante” que, no entanto, deve ser vista tendo em conta o “contexto de uma rede social fervilhante e ultra-rápida como o twitter”.

“É muito satírica porque é muito verdadeira”

“A economia contraiu 3,9% portanto vamos redobrar a austeridade e cortar mais”. Foi este o conteúdo da primeira publicação, depois traduzida e partilhada pelo especialista da Credit Writedowns. “Edward, não sei se sabe, mas essa conta é satírica”, advertiu uma portuguesa poucos minutos após a primeira partilha.

A resposta chegou no minuto seguinte: “É muito satírica porque é muito verdadeira :-)”, respondeu Edward Harrison que, num outro tweet, veio acrescentar que “o problema é que a mensagem é verdadeira. Isso [o aumento da austeridade e dos cortes] é exatamente o que vai acontecer, mesmo que o primeiro-ministro não o diga diretamente”.

Na conta, o “Pedro o PM” diz orientar-se por “5 pês: Pedro, Pai, Primeiro-ministro, Patriota e Pin”. “Também faço farófias”, acrescenta em tom irónico o “falso” Passos Coelho. Saliente-se, no entanto, que todas as citações diretas do verdadeiro primeiro ministro são assinaladas com um asterisco. Ainda em tom jocoso, Paulo Portas é também alvo da sátira ao ser tratado como “o Terceiro” por ter sido referido por Passos, numa entrevista, como a terceira figura do Governo.

O humor e a política

Nuno Salgueiro, com 39 anos, é um designer industrial no desemprego e estudante de Engenharia Mecânica no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa afirma não utilizar o método tradicional para conseguir maior número de seguidores e consequente visibilidade. Aliás, a conta segue apenas duas pessoas pessoas, Merkel e Shauble, precisamente porque a ideia da conta é “falso institucional” e faz parte da piada”.

Militante no Partido Socialista, mas “sem grande atividade, fora das redes sociais e blogues”, Nuno, que assina como Vega9000 no twitter e no blog Aspirina B, afirma que usa o humor e a sátira como “armas no debate político”: “Se bem usados, permitem desmontar na perfeição discursos e ideias politicas, por vezes pomposos e pseudo-sérios, e dar a ver aquilo que muitas vezes são: coisas sem grande sentido e muitas vezes contraditórias. O humor vive muito, aliás, dessa exploração e contradição”.

“A política presta-se, como poucas coisas, à desmontagem através do humor, precisamente porque vive de aparências e de uma linguagem própria”, acrescenta, afirmando o humor como uma forma de “‘traduzir’ aquilo que é dito”. A relação direta da política com o dia-a-dia explica o “grande interesse” por parte das pessoas.

Os limites do humor

Os limites dependem, de acordo com o humorista amador, da “ética de cada um”. “Nesta conta procuro usar apenas temas políticos sem entrar em aspetos que acho irrelevantes”, afirma.

“Aspeto físico (sendo Marques Mendes a exceção, porque, enfim, é difícil resistir e o próprio acha graça), questões de honestidade e corrupção (que tantas vezes corrompem, isso sim, o debate de ideias), sexualidade da vida pessoal e familiar, esta última dentro dos limites próprios que se impõem” são alguns dos assuntos aos quais não dá destaque no tipo de humor que faz.

Refere, no entanto, a necessidade de os políticos se protegerem caso não queiram ser alvo de sátira. A título de exemplo, Nuno afirma a entrevista do jornal i ao pai de Passos Coelho: “Se usam a família como argumento político, então não se podem queixar que a família se torne também alvo de crítica política. Mas no geral, procuro evitar isso”.