“As nossas crenças e atitudes sobre a sexualidade têm um papel determinante na nossa resposta sexual e na nossa satisfação sexual”, refere Pedro Nobre, responsável pelo SexLAB, primeiro Laboratório de Investigação em Sexualidade Humana (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto – FPCEUP, em parceria com o CINEICC – FPCEUC e a Universidade de Aveiro).

Na prática, “estudos mostram que as crenças funcionam como fator de risco. Há crenças, umas mais associadas ao homem e outras mais ligadas à mulher, que os tornam mais vulneráveis a um problema sexual”.

Mas, afinal, o que é normal?

“O que é normal é a diversidade, por exemplo, em termos de preferências, de orientação e de respostas sexuais. Há pessoas que têm respostas tendencialmente mais rápidas, outras mais lentas; há pessoas que têm maior facilidade em atingir orgasmos e outras que têm menos; há pessoas capazes de atingir orgasmos múltiplos, mas outras não. O orgasmo simultâneo entre parceiros não é impossível, mas não é fácil”, frisa Pedro Nobre.

No caso dos homens, essas crenças traduzem-se por aquilo a que o sexólogo chama “mitos do macho latino”, ou seja, “ideias irrealistas ou inalcançáveis relativamente à sexualidade (um homem deve estar sempre ‘pronto’, nunca pode ‘falhar’, deve sempre tomar a iniciativa, nunca pode dizer não)”.

Esta exigência extrema acompanha-se de uma “catastrofização”: se falharem, não são homens. Curiosamente, vira-se o feitiço contra o feiticeiro, sendo que “estas crenças estão muito associadas à disfunção eréctil e à ejaculação prematura”.

Nas mulheres, “o conservadorismo (sexo apenas no âmbito de uma relação estável e pós-marital) e a passividade sexual influenciam negativamente a sexualidade”. Enquanto nos homens continua a haver alguma transversalidade, independentemente da idade, da educação e do estatuto socioeconómico, “nas mulheres há uma maior diversidade em função destes fatores”.

Orgasmo vaginal vs orgasmo clitoridiano

“Muitas vezes as mulheres se consideram inferiores porque têm dificuldade em atingir o orgasmo durante o coito. Há estudos que mostram que são menos as mulheres capazes de ter orgasmo regularmente durante o coito do que as que mulheres que só o têm raramente ou nunca o têm. Nada mais normal do que dificuldade em atingir um orgasmo durante a penetração, se não houver outros estímulos”, esclarece o especialista.

Por outro lado, continua Pedro Nobre, “há cada vez mais mulheres, sobretudo mais jovens, que pensam que devem estar sempre ‘prontas’, que devem ter orgasmo durante o coito, orgasmos múltiplos ou simultâneos. Quanto mais irrealistas são as expectativas, mais fácil é haver uma discrepância com a realidade”.

Nas revistas femininas, “a maior parte das mensagens sobre sexo é de grande exigência. O termo de comparação é muitas vezes difícil de atingir. Isto é mau, sobretudo quando não há quem contradiga esses mitos”, conclui Pedro Nobre.