“Sempre quis ser professora e professora de muita coisa. Desde pequenina. Talvez porque a minha avó foi professora regente nos primeiros anos do Estado Novo e eu ouvia as histórias dela. Tudo contribuiu para estar aqui e querer ser professora.

Perfil

Adriana Carvalho tem 22 anos e é estudante do 1.º ano do mestrado em Ensino de História e Geografia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Este depoimento foi construído a partir de entrevista.

O que se está a passar agora faz-me pensar duas vezes, claro. Eu tenho mesmo de tirar este mestrado [em Ensino]. O que vier depois… sei que vai ser muito difícil ter logo colocação, mas vou tentar. Por ventura, posso ter de enveredar por outros caminhos. Continuar a formação académica também é algo que já tenho em mente. Na faculdade temos falado de emigração, em trabalhar noutros países, em opções à própria escola. Já pus essa questão em cima da mesa. Nós aprendemos geografia europeia e ensinar geografia noutro continente seria complicado, mas não será impossível. Ou então mudar de área. Mas quando eu penso em mudar de área, penso sempre em alunos e escola. Acho que a minha cabeça está formatada para alunos e escola.

Se tiver de abandonar a minha área será um bocadinho morrer na praia. Gostava muito de aplicar aquilo que estou a aprender e gostava muito de ter tempo para aplicar aquilo que estou a aprender. Sei que se abandonar agora e retomar daqui a 15 anos não vou ter as mesmas forças. E, acima de tudo, sei que não terei a mesma competência. Agora vou sair fresquinha da faculdade, vou sair com inovação.

Tenho de entregar a tese até Dezembro de 2014, mas só concorro [para as escolas] em Setembro de 2015. Vou estar alguns meses parada. Durante esses meses, pensei em tentar os centros de estudo. Deixa-me muito triste pensar nisso porque gostava muito de aplicar aquilo que estou a aprender e sei que num ATL não posso aplicar o que quero porque o contexto é diferente. É uma função muito básica e muito rotineira – ler o manual, fazer exercícios – enquanto que um professor tem um público muito mais abrangente e consegue fazer outras actividades. É um desafio.

Na faculdade estão-nos sempre a perguntar “Que professor queres ser?”. Estudámos vários perfis de pedagogia, da escola tradicional à contemporânea. Eu quero ser uma professora que vai ao encontro dos alunos. Sei que tenho objetivos para cumprir, as metas são muito impositivas, mas quero ir ao encontro dos alunos. Mas, numa turma com 30 alunos, é impossível ir ao encontro de todos.

Ser professora numa escola pública na região do Porto é um bocadinho utópico. Também gostava de ir para o interior. Para começar era bom, gostava muito. Há uma série de experiências que eu penso que os meninos do interior não têm acesso. Gostava de lhes mostrar um bocadinho da cidade. Mas se tivesse horário parcial, se fosse muito parcial, não ia. Por questões práticas.

Estas movimentações sociais têm de acontecer – e não acontecem só entre professores. Não estou a ver um professor com 67 anos muito apto para dar aulas. É uma profissão exigente. Vamos ficando mais fracos. E saturados. Têm razão em contestar o horário. Um horário zero é zero horas letivas, mas não significa zero horas sem trabalho. Muitas vezes faz-se trabalho burocrático e isso também tem de ser contabilizado. A questão da mobilidade especial também não faz sentido. Acho que este sistema vai ter de mudar. Na faculdade somos pouquíssimos alunos no mestrado em Ensino e muitos professores estão a aposentar-se. Penso daqui a uns anos entrar no sistema será mais fácil, mas só daqui a uns anos.

Compreendo a revolta dos professores. Apoio muitas das reivindicacões. Foi uma classe que já esteve muito bem, mas agora não está. Também não digo que deve ser uma classe de elite, de topo, mas os professores formam os adultos de amanhã. Devem dar-lhes mais crédito.”