“Este espetáculo tem a ver com uma pesquisa da obra do Kafka. Investigámos toda a obra e a partir daí fizemos uma seleção de personagens e ambientes”, explica Raquel S., presidente do Teatro Universitário do Porto (TUP). Depois, bastou “misturar tudo um bocadinho, mediante a ligação que se conseguia criar entre as personagens”.

A mulher que criou, escreveu e produziu este espetáculo não tem dúvidas que esta experiência, que vai “do Castelo à Metamorfose” e estreia a 27 de junho, vai ser mais um sucesso para o grupo de teatro universitário. “Muitas das pessoas terão uma ideia muito específica sobre o autor – e de como se lê o autor. Espero que seja visível uma hipótese de leitura completamente diferente e que, nesse sentido, seja surpreendente para o público”, conta.

Mas porquê o Kafka?

O autor checo sempre interessou particularmente a Raquel e pareceu-lhe que detinha “um universo óptimo para levar a cena”. O facto de, uma semana depois da estreia, se comemorar os 130 anos de Kafka também ajudou. “É um espetáculo de homenagem, de alguma forma”, diz.

É que “Kavka” tem tudo para dar certo: tem encenação de António Júlio, é o quinto espetáculo original do TUP em apenas quatro anos e “ao que tudo indica, porque nunca foi feito um espectáculo que juntasse vida, obra e personagens do consagrado escritor”, diz o grupo, em comunicado.

Por outro lado, “Kavka” tenta fugir ao trágico que, de certa forma, tem acompanhado a linha do TUP com, por exemplo, “Medeia de Noitarder“. “Este espetáculo vai no sentido absolutamente oposto. É um espetáculo cómico, confuso, caótico. É divertido para o público”, garante Raquel.

“Uma encenação muito específica e uma visão estética muito particular”

O palco também muda de pouso e o espetáculo não acontece sequer na sede do TUP, mas na rua José Falcão, numa antiga tipografia – “num edifício perfeito para o ambiente e as personagens de Kafka”.

Para além de permitir uma fuga à monotonia, esta é uma estreia que quer levar o TUP a provar que consegue ser polivalente. “Fica claro que conseguimos ter quatro projetos muito diferentes em apenas um ano, por exemplo: a “Medeia de Noitarder”, que foi um projeto completamente TUP; o “TUP Apresenta“, em que abrimos as portas a novos grupos; temos agora o “Kavka” com o António Júlio, que é um tipo de encenação muito específica e uma visão estética muito particular, e ainda vamos ter um espetáculo final, em dezembro”, sublinha.

Afinal, o objetivo é que as comemorações dos 65 anos provem o valor do grupo e sejam, “de facto, a celebração do caminho que o TUP tem vindo a adoptar e do que se tem feito por lá, a nível de consolidação de métodos e escolhas técnicas”.