Um baterista percorre o gradeado da mesa de som com as baquetas. No topo de uma subida cimentada, ao lado direito do Palco Vice, um trompetista improvisa. O experimentalismo denuncia. Eis o regresso dos espanhóis ZA! às margens do rio Cávado. “Quem esteve aqui em 2010?” – Muito menos gente, com certeza. O duo frenético aposta nos jogos vocais, no usufruto dos loops e samples, e na dissonância rítmica. Criam-se reminiscências de free jazz entre riffs de guitarra destruidores, roçando muitas das vezes o noise.
Se dúvidas existissem, horas antes os Egyptian Hip Hop mostravam ser a banda revelação desta terceira noite do Milhões de Festa. A voz afagada, e arrastada, do vocalista cool imiscui-se nos ritmos certeiros e nas melodias simples que se repetem ao limiar do quase transcendente. Também no palco principal, os Loosers declamaram rock ao som de teclados supersónicos para um público que raramente reagiu.
Após a passagem electrónica, e prematura, de Dam Mantle pelo Palco Vice (já tinha tocado na piscina), os Eyehategod mostravam a razão pela qual são considerados lendários na história do sludge. Uma presença em palco avassaladora, e paradoxal – entre “fuck you” e “love you” dirigidos ao público – que fez despoletar uma dança colectiva recheada de crowdsurf e poeira. O dia, que se mostrou mais dedicado às sonoridades arrastadas, arrancou com a actuação quase performativa dos HHY & The Macumbas.
O kuduro lisboeta do DJ Marfox fez gingar o corpo dos mais resistentes e deu por encerrado o terceiro dia do Milhões de Festa, não tão frutífero como o segundo. Em Barcelos, a chuva ameaça marcar presença pela primeira vez na piscina do festival. Impossível prever reacções mas espera-se, no mínimo, excentricidade.