“Não quero um armazém de taças como o FC Porto já teve. Vamos ter um museu do melhor que há no mundo”. Esta é a garantia de Pinto da Costa e um desejo já bem conhecido: construir e inaugurar o museu do clube. A promessa está a pouco tempo de ser cumprida, naquele que poderá ser o último mandato de Pinto da Costa à frente dos “dragões”.

Os responsáveis do clube procuram juntar no museu todas as peças que contem os 120 anos de história do FC Porto e os adeptos “azuis e brancos” têm um papel importante nessa missão, ao serem “convocados” para contribuir com os objetos que foram colecionando ao longo dos anos. Essa campanha de recolha vai decorrer durante agosto e setembro, numa aplicação criada no Facebook, designada de Valor FC Porto.

António Lourenço tem duas paixões que andam de mãos dadas: a música e o clube das Antas. O som inconfundível da trompete entoou no estádio das Antas e continua a embalar o Dragão desde um ponto estrategicamente pensado: bancada central superior, na primeira fila – para “não furar os tímpanos a ninguém” -, por cima do setor visitante, para atrapalhar os cânticos, e no extremo oposto à claque do Colectivo e dos Super Dragões, de forma a equilibrar o apoio à equipa. Ao lado, no Dragão Caixa, também se ouve a melodia de Pinto da Costa Olé, Filhos do Dragão, Campeões Allez e até alguns cânticos das claques.

Foi em 1983, no jogo em que o Porto se sagrou campeão nacional de Hóquei em Patins pela primeira vez, no pavilhão Américo de Sá, que António Lourenço se estreou com a trompete no apoio à equipa. Mais tarde, foi o amigo Alexandrino Azevedo que o convidou a juntar-se à claque Dragões Azuis e nunca mais parou. “Já acompanhei o clube para quase todo o lado e em todas as modalidades, é uma vida dedicada ao FC Porto”, conta.

Outras histórias

António Lourenço coleciona muitas histórias. Desvaloriza os insultos que ouvia em jogos longe das Antas e sublinha, por exemplo, a simpatia dos alemães de Gelsenkirchen ou o arrumador das bancadas de Camp Nou. Quando vai ao Jamor confessa que nem precisa de levar comida porque toda a gente o convida e até um rottweiler de tamanho respeitoso de um polícia já o cumprimentou. Não troca o Porto e a cidade por nada, ou então só por mil contos.

É pela ligação ao clube, não só como adepto, mas também como atleta de natação, que António Lourenço vai deixar marca no museu: “Doei a trompete mais antiga que tinha, assim como cassetes e discos originais da Maria Amélia Canossa. Já têm muito material meu”, confessa. Para António Lourenço, o museu é algo que “faz falta ao clube”, e espera um espaço ao “nível do FC Porto”, ou não tivesse percebido, no dia em que foi entregar o que lhe pediram, que o clube tem mais de 20 mil taças armazenadas – “Uma coisa imensurável”, relata. O museu não vai também esquecer as modalidades já extintas, como o hóquei de campo ou o voleibol, conta António Lourenço.

Dizer que não existe um museu do FC Porto até pode ser visto como uma pequena mentira e quem pensa o contrário pode, pelo menos, ver as coisas de maneira diferente assim que entrar na casa de Alexandrino Azevedo, precisamente o mesmo que levou António Lourenço para os Dragões Azuis.

No número 111 da Rua do Sol, em plena Sé, encontram-se três andares submersos num mar azul de fotografias, posters e camisolas autografadas, estátuas, quadros, bandeiras e até televisões antigas servem de expositor. Também se encontram objetos mais raros que são verdadeiras peças de museu, como lâmpadas do estádio das Antas, chuteiras de Paulo Futre e Fernando Gomes ou o cartão de sócio de José Mourinho.

A paixão e a “doença” pelo FC Porto, segundo Alexandrino Azevedo, já vem de pequeno e por influências da mãe. Aos 15 anos começou a recolher tudo o que encontrava do clube e hoje, com 70 anos, é dono do maior museu oficioso do FC Porto.

Peças sem preço

emblema valioso Alexandrino coleciona todas as peças do puzzle que recria a história do FC Porto, mas há algumas que nem em leilão teriam preço: um emblema (na foto) do FC Porto com 40 diamantes, 40 gramas de ouro e 40 safiras naturais, para cumprir a promessa de “ter um emblema que mais ninguém tivesse”, é um desses exemplos. O outro é um quadro de José Maria Pedroto com dedicatória e assinado pela sua própria mão antes de morrer. Também é difícil ficar indiferente a um espelho de cristal com o símbolo do FC Porto demarcado e que o clube gostaria de ter no museu.

Apontar o primeiro objeto do museu é um exercício demasiadamente difícil, mas o mais antigo, pelo menos, é um quadro da primeira equipa oficial de futebol do clube, e o último a chegar foi um álbum de fotografias do sócio número um do FC Porto. Alexandrino Azevedo também faz parte da comissão de apoio à candidatura de Pinto da Costa e, para o sócio “azul e branco”, o presidente é mesmo a peça mais valiosa do clube.

Segundo Alexandrino Azevedo, o museu oficial do FC Porto “já faz falta há muito tempo” e é importante tanto para adeptos portistas como para estrangeiros, pelo “dinheiro que entra e pelo nome que dá ao clube”. Confessa ainda que fez “muita força com Pinto da Costa” para que construísse o espaço.

Ao JPN, Alexandrino Azevedo afirma ter “peças que nem o FC Porto tem” e confidencia que o clube das Antas está a fazer uma busca para descobrir “coisas raras e o mais antigas possível”. Porém, é muito cauteloso no que ao museu pessoal diz respeito: “Se começar a tirar peças daqui, fica disforme”, diz, sem querer levantar mais o véu, mas admitindo que é sensível aos pedidos de Pinto da Costa.

De uma maneira ou de outra, as expectativas para o museu são altas e Alexandrino Azevedo não tem dúvidas: “Vai ser único, o maior, extraordinário, ao nível do FC Porto e uma coisa fora de série”, afirma. A abertura está marcada para setembro de 2013, mês em que o clube assinala 120 anos de existência.