Há quatro anos que Miguel Santos era nadador-salvador na praia Estrela do Mar Norte, em Vila Nova de Gaia. Já teve Michael Phelps a nadar na sua praia e começou numa altura em que “havia falta de nadadores salvadores”, para “prestar um serviço à sociedade”. Hoje, não lhe faltam histórias dos areais do Norte, que conhece de cor.

Este ano, no entanto, não vestiu a farda tipicamente laranja e amarela. “Este ano, nas praias de Gaia, houve uma reformulação” que não lhe agradou particularmente. “Anteriormente os nadadores salvadores faziam contratos diretos com os concessionários, como acontece no Porto”, este ano houve uma associação de nadadores salvadores – a Safetynor, de Espinho – a fazer de intermediário.

Recibos verdes em vez de contratos e cota anual para trabalhar

“Chegaram a um acordo com a Câmara e os concessionários para regular a contratação nas praias” e “não tiveram em conta os nadadores que já haviam em Gaia”. Quem quis continuar por lá, conta, “viu-se obrigado a fazer contrato com a Safetynor”, o que implicou perder regalias, começar a ganhar menos e “pagar uma cota de 25 euros anuais – sem garantia de que viessem a ter lugar”, ou seja, trabalho.

Em vez de contratos por três meses, “a associação pediu recibos verdes”, conta. A comida, a que normalmente tinham direito, não estava incluída e as fardas, que os concessionários dão aos nadadores, tinham de ser pagas pelos próprios, este ano. “Não é o que está legislado”, diz, “os concessionários é que têm de fornecer o equipamento”. O JPN tentou entrar em contacto com a Safetynor, para esclarecer esta situação, mas nunca obteve resposta.

“Recuso-me a trabalhar em Gaia, a menos que seja nas praias que não aderiram à associação”, diz Miguel, “ainda há duas”. “Ou isso, ou vou para o Porto”, garante. Foi o que fez Diogo Mariz, pela mesma razão. Recibos verdes, “para quem tem bolsas de estudo, é um problema”, diz Diogo. Por isso, apesar de normalmente trabalhar em Gaia, este ano está em Matosinhos.

“Não são tidos em conta os direitos e interesses dos nadadores salvadores”

Miguel fala ainda do facto de existirem praias em que está apenas um nadador salvador a trabalhar. “Qualquer concessão, grande ou pequena, deve ter no mínimo dois nadadores (…) Numa situação de aflição, como é que um nadador se vai desenrascar sozinho?”, questiona. “Não são tidos em conta os direitos e interesses dos nadadores salvadores”.

Seja onde for, Diogo e Miguel não desistem de ser nadadores salvadores, não só pelo salário, mas pelo gozo que a atividade lhes dá. No entanto, a associação acaba por ser apenas um dos entraves que se colocam. “Algum material está degradado e fecha-se os olhos a muita coisa”, garante Miguel. “Os processos de avaliação [do curso de nadador salvador], por exemplo, deviam ser mais exigentes – passa a esmagadora maioria”.