José Soeiro, candidato do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara do Porto, concorre pela primeira vez às eleições autárquicas. Repovoar a cidade, criar novos postos de trabalhos e aprofundar a participação cívica dos portuenses são as prioridades da candidatura de José Soeiro. Em entrevista ao JPN, o candidato do BE falou dos seus planos para a cidade, daquilo em que o município falhou durante os últimos mandatos e da relação entre o Porto e a população jovem.

“A cidade tem maltratado os jovens”

Os elevados custos de habitação no centro do Porto – devido à ausência de uma política de habitação “amiga” dos jovens – e os elevados níveis de desemprego são os grandes responsáveis pela saída, cada vez mais evidente, da população jovem do centro da cidade. “A cidade tem maltratado os jovens”, diz José Soeiro, uma vez que não há condições para que possam encontrar habitação e trabalho.

Este impedimento conduz àquilo que José Soeiro considera uma “situação paradoxal“, visto que as pessoas que consideram o Porto “o seu lugar e onde fazem a sua vida” não podem participar na vida política da cidade. A inversão desta situação passa pela reabilitação do centro histórico.

“São muitas dezenas de casas, no centro histórico, que estão vazias, que estão devolutas, que pertencem à autarquia e que poderiam ser reabilitadas”, diz José Soeiro, para quem as casas do centro do histórico podem ser uma solução para os jovens à procura de residência na cidade. Para já, o candidato planeia a criação de um programa que torne possível o aumento da oferta de casas a preços acessíveis, dentro da cidade.

2500 árvores por ano

Candidato a uma das cidades com menor arborização por cidadão, José Soeiro pretende apostar na plantação de 2500 árvores por ano para aumentar as áreas verdes na cidade. Mesmo depois da criação do Parque da Cidade, José Soeiro diz que os 83 hectares de espaço verde não são suficientes para estabelecer equilíbrio com as áreas não arborizadas.

Mas repovoar a cidade passa também pela conquista das ruas e praças através da arte, cultura e do comércio. Para o candidato do BE, pontos históricos da cidade podem ser reaproveitados e usados para dar mais vida ao Porto. Um dos exemplos dados é o mercado do Bolhão que, além da sua dimensão comercial, poderia ainda ser explorado com atividades culturais e turísticas. Desta forma, “a reabilitação urbana permitiria ainda criar emprego”, afirma o candidato bloquista.

“Há uma vida intensamente vivida pelos jovens, na cidade”

“Há imensas iniciativas de jovens que vão resistindo e que vão dando vida à cidade”, explica José Soeiro, salientando a importância da participação dos jovens na vida do município. Manifestações e movimentos de resistência cultural são alguns dos exemplos onde a participação dos jovens é mais evidente. José Soeiro refere o caso da Fontinha, que contou com uma grande participação da comunidade jovem, assim como iniciativas culturais, entre elas a forte atividade de associações de estudantes que promovem a projeção de filmes e resistem à perseguição que tem sido feita à cultura.

Relacionado com os jovens, José Soeiro falou também da importante relação que a Câmara do Porto deve manter com a Universidade do Porto (UP). Reconhecida internacionalmente como a melhor universidade portuguesa, a UP é, atualmente, uma das maiores instituições da cidade e também um dos seus pólos de atração, já que todos os anos conta com milhares de candidaturas de jovens de todo o país.

Além da importância e reconhecimento que traz para a cidade, a Universidade do Porto tem ainda potencial para disponibilizar serviços úteis à Câmara do Porto, que permitem poupar milhões de euros. Projetos que envolvem áreas como o ambiente, energias, sociedade e até arquitetura foram disponibilizados ao município. No entanto, “a autarquia não tem aproveitado o conhecimento que aqui se produz para o bem da cidade”, aponta José Soeiro. O projeto elaborado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), destinado a reabilitar o Bairro do Aleixo, foi um dos serviços ignorados pela Câmara do Porto.

“Muitos Portos dentro do Porto”

José Soeiro considera que o distrito do Porto, tal como o país, é assimétrico, pois há um “conjunto de concelhos prejudicados pela centralização do poder”. O deputado do Bloco de Esquerda considera que as diferenças no investimento nas várias áreas da cidade fazem com que hajam “Muitos Portos dentro do Porto” e dá o exemplo da freguesia de Campanhã: “É, provavelmente, a freguesia que tem menos investimentos públicos, menos equipamentos, uma mancha de pobreza mais acentuada e tem sido objeto de muito pouco cuidado, pela autarquia”, afirma.

“Acarinhar” a cultura

Os últimos 12 anos de autarquia são considerados, por José Soeiro, como “negros” para a cultura da cidade do Porto. O candidato bloquista considera que, durante os três mandatos a cargo de Rui Rio, muitos agentes culturais foram hostilizados e se viram forçados a deixar a cidade. Entre os vários agentes culturais, José Soeiro dá especial destaque ao setor do teatro que tem uma forte presença na cidade Invicta, com vários grupos independentes e três escolas de teatro.

No entanto, através da concessão privada do Rivoli – aquele que José Soeiro considera um espaço de atuação cultural pública -, os agentes culturais independentes foram privados de um grande apoio.

Já no que diz respeito ao edifício AXA, José Soeiro admite que, inicialmente, “parecia uma boa ideia”, mas que já foi desde cedo associado a confusões, nomeadamente ao que aconteceu com o artista Paulo Mendes, que retirou toda a sua exposição depois de uma das suas obras – uma réplica da bandeira portuguesa, a preto e branco – ter sido censurada pela Câmara.

Depois de criticar a atitude da autarquia face à cultura, José Soeiro deixou claro que a sua intenção, no que diz respeito a este tema, é de “acarinhar aquilo que tem sido feito em termos de cultura”.

A demolição do Aleixo

No que diz respeito à demolição do Bairro do Aleixo, uma das prioridades do último mandato de Rui Rio, José Soeiro demonstrou a sua oposição. O candidato bloquista contou ainda que acredita ser possível parar a operação de demolição que começou em 2011, com a queda da torre 5 e que no passado mês de abril avançou com a demolição da torre 4.

“Acho possível parar a demolição do Aleixo, sobretudo porque, agora, que estão duas torres demolidas, é possível perguntar às pessoas do Aleixo aquilo que precisam”, afirma o candidato do Bloco de Esquerda. Recuperar as torres, construir outras habitações, lares de dia, escola, centros de convívio e outras infraestruturas são propostas que José Soeiro está disposto a ouvir. “A demolição à bomba do bairro não resolveu nenhum problema”, salienta, referindo que a queda das duas torres não resolveu o problema da toxicodependência, desemprego e habitação.

O candidato do Bloco de Esquerda à Câmara do Porto acusa a operação do Aleixo de ser uma estratégia para entregar o terreno a um Fundo Imobiliário que quer conduzir uma operação imobiliária de especulação. “Nós consideramos que é muito importante preservar o direito ao lugar daquelas pessoas, porque têm o direito ao lugar que é delas”, acrescenta José Soeiro.