“Gaia está pronta para arder… Com a dívida que deixei, não há nada a fazer! Eu sei que é ilegal, mas vou tentar arranjar ‘tacho’ no Porto”, diz Luís Filipe Menezes, num depoimento que só é possível na “Menezolândia”. Uma das muitas publicações da página de Facebook dedicada ao “político que diz tudo e o seu contrário, apoiante nº 1 do Passos Coelho” e “dinossauro das presidências da Câmara”.

O que quer Menezes, segundo a “Menezolândia”

Foto: Menezolândia
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A “Menezolândia” é uma de várias páginas de cariz político e satírico no Facebook. Um fenómeno que reflete a crescente utilização deste tipo de plataforma como veículo de intervenção política, sugerindo, ao mesmo tempo, a existência de um espaço de “guerra” entre candidatos, que assim se dissociam do discurso político oficial.

“Não nos interessa a luta dos partidos e dos candidatos”, esclarece, no entanto, o administrador da “Menezolândia”. “Apenas não queremos que Menezes possa concretizar a sua candidatura ilegal e mentir descaradamente aos portuenses, como tem feito”, afirma.

“A ideia surgiu entre um grupo de amigos. Achamos importante criar uma página para denunciar [Menezes] com humor, divulgando notícias do desastre que foi a sua passagem por Gaia. Se o resultado das eleições do Porto for o que esperamos – que ganhe qualquer um, menos Menezes – a página será encerrada”, refere o administrador da página.

O “Supositório”

“Por favor paizinho, limite-se a jogar à malha”, por “Supositório”

Também o “Supositório” assume o intuito de “chamar a atenção, de forma bem disposta, para a má qualidade de alguns materiais de campanha”. O administrador da página rejeita, à semelhança do caso anterior, a ideia de que se trata de uma página de “guerrilha política”.

“Não acreditamos que páginas como a nossa sirvam para informar os leitores, apenas servem como objeto lúdico”, explica. “Não acreditamos que sirvam para promover ou atacar um candidato. As páginas que existem de guerrilha política, em nosso entender, prejudicam mais do que beneficiam”, conclui.

Outra das páginas ouvidas pelo JPN foi a “Autárquicas 2013 no Porto“. O seu objetivo é bem claro: fazer humor e não influenciar quem quer que seja.

Terá sido um “enterranço a 3 tempos”?

“Enterranço a 3 tempos e a dar rateres”: Manuel Pizarro no “Autárquicas 2013 no Porto”

“Surgiu como uma brincadeira entre amigos, baseada no puro humor”, explica um dos administradores da página, que acrescenta não haver nenhum intuito de “guerra suja”. Pelo contrário, refere que todos os conteúdos são baseados nas páginas oficiais das candidaturas, discursos, notícias e comportamentos dos candidatos. “Se fosse personalizada num só candidato, então seria meramente uma ‘guerra suja'”.

O poder das redes sociais na imagem dos candidatos

“Hoje, as redes estão para as eleições como a rádio esteve para Roosevelt e a televisão para Eisenhower. Hoje, se há meios que contam, é a televisão e, em segundo lugar, as redes sociais”. Quem o diz é Vasco Ribeiro, docente na Universidade do Porto e, neste momento, responsável pela comunicação da candidatura de Manuel Pizzaro (pelo Partido Socialista) à Câmara do Porto.

Vasco Ribeiro admite a existência de ataques via redes sociais, o que levou à necessidade de uma maior monitorização destas páginas satíricas. “A mensagem negativa tem sempre efeitos negativos em qualquer processo de comunicação”, esclarece ao JPN.

“As redes sociais são mais uma forma de atacar os adversários e, do meu ponto de vista, não aconselho ninguém a fazer isto. Um candidato que se preocupa mais em atacar o adversário não consegue ganhar um espaço próprio”. No entanto, acredita que, no caso do Porto, não há casos realmente efetivos de ataque aos candidatos e afirma que ele próprio não se envolve com páginas deste tipo.

O combate à informação negativa

Para Vasco Ribeiro, o mais importante é seguir os princípios obrigatórios de qualquer processo de comunicação de crise: ser ágil e agir com qualidade informativa. Isto é, dar informação precisa, dinâmica, tranquilizadora e sempre verdadeira. “Nunca combater um boato, uma tentativa de difamação ou mesmo um escândalo através da mentira”, lembra o assessor de imprensa de Manuel Pizarro.

Contudo, o docente admite que fazer comunicação de crise numa rede social “não é muito gratificante” para um assessor de imprensa ou comunicação, porque é difícil. “Nos órgãos de comunicação social sabemos que há um conjunto de técnicas que conseguem condicionar a propagação de uma mensagem negativa. Aqui [redes sociais], não.”

Vasco Ribeiro também relembra que qualquer dos boatos que circule na Internet ganha quase dimensão de verdade. No entanto, recorda que os meios tradicionais ainda têm mais força de credibilidade e uma maior força na opinião pública que o Facebook.