16h: O “Capitão Fantástico” do “D’Bandada”

O Clube Fenianos Portuenses era o sítio previsto para o concerto de Miguel Araújo, mas após uma mudança de planos foi o edifício do Bingo, na Rua Dr. Ricardo Jorge, que teve o privilégio de ser o spot do início do “D’Bandada” 2013.

A fila à porta apresentava o concerto como um dos mais concorridos da edição. Roupa descontraída, óculos de sol e de máquina fotográfica na mão, o jardim do espaço permitiu à maioria sentar-se para ouvir as baladas do artista.

Os mais atentos notaram a presença no concerto de outros músicos como João Só e António Zambujo. Este último foi apresentado por Miguel Araújo como um “convidado especial”, tendo mesmo subido a palco e partilhado uns acordes de guitarra.

O músico aproveitou o evento para cantar temas menos conhecidos. “É raro ver as caras das pessoas”, brinca Miguel Araújo. Assim, “A Romaria das Festas de Santa Eufémia”, feita em parceira com António Zambujo, no Projeto Cidade, e “E Tu Gostavas de Mim”, música escrita para o álbum “Desfado”, de Ana Moura, foram algumas das novidades que apresentou.

Aqueles que vinham para escutar os hits de rádio não ficaram dececionados. “Anda comigo ver os aviões”, dos Azeitonas, e “Capitão Fantástico”, soltaram as vozes de todos os presentes. Após despedir-se do público e já com todos em pé, Miguel Araújo decidiu fechar a sua participação no “D’Bandada” com uma das suas canções mais emblemáticas, “Os Maridos das Outras”.

18h: Estafeta de música

A “estafeta” foi uma das grandes novidades desta edição do “D’Bandada”, que contou com a música de The Glockenwise, NACO, Jibóia e The Shine.

A Rua da Cedofeita foi o ponto de partida e os primeiros a calcorrear foram The Glockenwise. A banda foi conquistando público ao longo do tempo e ao longo da conhecida Cedofeita. Acompanhados de guitarras elétricas e de uma pandeireta, saudaram as pessoas, explicaram o percurso e fizeram-se ver e ouvir. Apesar dos problemas do som e dos ajustes que o vocalista a cada momento necessitava, a animação em redor era notória.

Terminaram na Praça dos Leões e entregaram o “testemunho” a NACO. Após um rápido soundcheck, o artista reiniciou a estafeta com menos público do que The Glockenwise, mas não deixou de ritmar a música com o bater de pé da sua sandália.

NACO apontou o Plano B como um dos pontos onde iria atuar à noite e acrescentou: “Vai estar ligeiramente mais alto”. Despediu-se na Torre dos Clérigos e seguiu-se Jibóia, que partiu em direção à Rua Cândido dos Reis. Jibóia foi dos artistas da “estafeta” que tentou combater o baixo som da música e teve ainda a originalidade de ser o único concerto à espera de atravessar uma passadeira.

A troca deu-se com os The Shine, que já esperavam na discoteca portuense, o último ponto do circuito. A boa disposição iniciou os ritmos africanos da dupla, assim como a coordenação da dança a que se juntava o kuduro.

19h: Long Way to Alaska enchem Miss’Opo

O espaço foi pequeno para a banda de indie rock, na Rua dos Caldeireiros, ao final da tarde. Uma multidão ficou à porta da Miss’Opo, enquanto lá dentro os Long Way to Alaska atuavam num bar apinhado de gente.

O ambiente sobrelotado tornou-se incómodo pela elevada temperatura dentro espaço. Entre luzes de palco e som dos instrumentos, as músicas conseguiram agarrar o público e mover fortes aplausos. A sonoridade foi mesmo um dos pontos fortes do concerto, com um som limpo e harmonioso a remeter para os dias de praia na Califórnia. A afluência mostrou que os Long Way to Alaska têm um caminho feliz no que toca à conquista do público portuense e não só.

20h: As virtudes de Gisela João

Ainda não eram 20h e o Passeio das Virtudes já se encontrava repleto de pessoas à espera da fadista do momento. A faixa etária relativamente mais velha e adepta do fado estava em maioria, no entanto, o estilo único de Gisela João conseguiu atrair jovens.

A entrada das guitarras portuguesas e de Gisela suscitou uma salva de palmas, que logo foi suspensa com um silêncio. A voz grave da jovem fadista impôs-se no ar e a emoção dominou o Jardim das Virtudes, sobretudo quando esta se ajoelhou no chão a cantar.

Os olhos do público estavam fixados em Gisela e muitos emocionaram-se com a melancolia das letras. A própria, após enérgicos aplausos, emocionou-se e disse: “Sou tão pirosa”. Em vários momentos mencionou a felicidade de cantar no Porto e alguns dos temas que interpretou eram da autoria de artistas portuenses, como Tony de Matos e Capicua. A fadista, voltada para o rio Douro e de pés descalços, acarinhou o público portuense como se sentisse em casa.

22h: Indie Rock e Fado invadem a Praça dos Leões

A Praça Gomes Teixeira foi, para muitos, o ponto de encontro para receber a banda de Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves e, mais tarde, António Zambujo. Os Best Youth “invadiram” a Reitoria com a subtileza do costume, mas expressaram, com maior surpresa do que é habitual: “Uau! Que muitos! Vocês são espetaculares!”.

O duo de Indie Rock aproveitou a ocasião para dar a conhecer ao público alguns temas do seu novo álbum, ainda que “Still Your Girl” já soasse no ouvido de muitos. A banda ainda pediu ajuda ao público na aprovação do seu novo single, que foi recebido com entusiasmo, mas foram os temas de “Winterlies” que suscitaram maior euforia na plateia.

A cumplicidade entre os dois e a sensualidade da voz da vocalista levaram o público ao rubro em “Hang Out”, o único single do primeiro álbum. O projeto “There Must Be a Place”, que juntou a banda com os We Trust, também não pode ser esquecido e cantou-se “Nice Face” em tom de despedida, mas também com o desejo de um encontro em breve.

Meia hora depois foi a vez de António Zambujo pisar o palco da Reitoria, aclamado por uma enchente cada vez maior e mais sufocante. A voz do público foi calada ao som da guitarra portuguesa que antecipou “A Casa Fechada”. “Tocar no Porto deve ser uma experiência maravilhosa, mas como esta deve ser difícil repetir”, revelou. Foi em “Flagrante” que o público aqueceu, mas a passagem imediata para “Lambreta” marcou a cumplicidade desejada entre o cantor e todos os presentes no local, que sussurravam carinhosamente a balada do cantor alentejano.

23h30: (Sentadas ou de pé), Capicua ou Blaya ousaram e provocaram

Mas enquanto se cantavam baladas, ouviam-se também vozes de revolta. Foi a convite de Capicua que Aline Frazão, Maze, e André Henriques se dirigiram ao Café Aviz para falarem em “Língua Franca”. Com ouvintes de todas as idades, sentados ou de pé, o espaço tornou-se demasiado pequeno para receber todos aqueles que não deixaram passar ao lado a indignação sobre os sonhos não realizados, a sociedade de consumo, a paixão, as desilusões ou até a rotina das 9h às 17h. Este foi o momento para “fazer o barulho todo”, e Ana, quem dá voz a Capicua, não deixou de gritar com o bom humor e valentia habituais, criando não só uma hora e meia de música, mas também de conversa e terapia.

Já o Armazém do Chá abriu portas a Blaya, a provocadora bailarina do Buraka Som Sistema. Durante uma hora, numa combinação de funk, R&B e hip-hop, a cantora conseguiu trazer tudo aquilo se esperava: muita energia e sensualidade que não conseguiram ser abafadas no último piso do Armazém. “(We Stay) Up All Night”, bem conhecida entre o público, provocou a agitação total e sublinhou que “a noite é para dançar”.

00h30: A solo, mas não sozinho, Úria enche Fenianos

Muitos acabaram a noite no Clube Fenianos Portuenses, conduzidos por Samuel Úria. Acompanhado pela sua guitarra, o cantor fez as delícias do público durante cerca de uma hora e meia num concerto íntimo, e nem “O Grande Medo do Pequeno Mundo” afastou os ouvintes durante a atuação.

Cantaram-se vários temas do último álbum, mas Úria não pôde deixar de embalar o público com algumas das suas canções incontornáveis, como “Teimoso” ou “Barbarella ou Barba Rala”. Perdido no tempo mas não na música, o cantor perguntou pela horas antes de acabar, ao que o público gritou “ainda é cedo”. “Não não, não tenham medo” cantou Úria, despedindo-se com “Forasteiro” e uma enorme vontade de voltar.