“Uma cidade viva é uma cidade onde as pessoas possam estudar, trabalhar e viver”, diz Pedro Carvalho, candidato à Câmara Municipal do Porto pela Coligação Democrática Unitária (CDU), em entrevista ao JPN. O candidato acredita que, sem estas três condições essenciais, “o Porto arrisca-se a tornar-se numa nova Lisboa”.

Pedro Carvalho acredita que a política de reabilitação urbana seguida pela administração de Rui Rio deixou “um enorme donut no centro da cidade”. De acordo com o candidato da CDU, este “donut” resulta do abandono do centro histórico, que ficou cada vez mais vazio, como é o caso da frente ribeirinha. “As pessoas ou acabam por viver na periferia ou por sair da cidade”, acrescenta.

Os elevados custos das rendas dentro da cidade e o estado devoluto dos edifícios na zona histórica são dois dos obstáculos de peso apontados por Pedro Carvalho.

Um Porto que pode perder a identidade

“Se não invertemos a lógica de desenvolvimento da cidade, aquilo a que nos arriscamos é a um Porto com que não nos vamos identificar no futuro, que perdeu a sua identidade e as suas gentes e que, por isso, é um Porto desertificado, que nós não queremos”, disse Pedro Carvalho.

De acordo com a CDU, a solução passa pela criação de um mercado social de arrendamento, capaz de repovoar o centro e de garantir condições de habitação, especialmente a jovens casais. Como ponto de partida, o mercado social de arrendamento disponibilizaria as habitações que fazem parte do património da Câmara do Porto. Numa fase mais avançada, um acordo tripartido entre senhorios privados, juntas de freguesia e a própria Câmara seria procurado para que as três forças pudessem garantir condições de arrendamento atrativas.

Pedro Carvalho acredita que a administração anterior, liderada por Rui Rio, contou com três grandes erros. O candidato da CDU indica os erros na reabilitação do centro histórico, que se traduziram, segundo o próprio, em vários problemas como “desertificação do centro, 17,7% em estado devoluto, 4% em ruína, falta de equipamentos estruturais e fecho de vários serviços públicos”, como os CTT.

Pedro Carvalho também dá destaque negativo à privatização de serviços que resultaram no “retirar do usufruto público de muitos espaços da cidade”. O último erro da administração de Rui Rio, segundo a CDU, assenta na falta de apoios relativamente ao desenvolvimento da cultura na cidade. Pedro Carvalho explica que toda a estratégia da Câmara foi a de “acabar com a CulturPorto e concessionar o Rivoli“, criando “a ideia de que a cultura tem que ser comercial”. A CDU garante que, relativamente a este ponto, pretende “dar 1% do orçamento para a cultura” e “reaproveitar o quartel de São Brás”, transformando-o numa casa de artistas.

Durante a conversa com o JPN, o candidato da CDU deixou ainda clara a sua posição face à operação de demolição do Aleixo: “Os problemas sociais não se resolvem à bomba”, afirmou. Uma proposta que prevê a suspensão e inversão da operação faz parte do programa de Pedro Carvalho, que acredita numa reabilitação faseada do bairro do Aleixo.

Organizar a animação noturna

Pedro Carvalho acusa os mandatos anteriores de serem responsáveis pela concentração da animação noturna do Porto no centro histórico e, consequentemente, pela existência dos problemas que daí resultaram: ruído, poluição e a redução do comércio diurno na zona. O candidato da CDU propõe o licenciamento da atividade, a redistribuição do fenómeno por vários pontos da cidade e a fiscalização dos bares para assegurar o cumprimento dos horários de funcionamento.

“A Universidade do Porto é um pólo de atração da cidade, a nível nacional e internacional”

Pedro Carvalho acredita que as relações que a Câmara estabelece com a Universidade do Porto, a maior instituição universitária portuguesa, podiam ser melhor aproveitadas. O candidato explica que “durante muito tempo houve um clima de crispação com as forças vivas da cidade”, destacando, em particular, os agentes culturais. É da sua opinião que a Câmara do Porto tem de “traçar” em conjunto com estas “forças da cidade” várias parcerias estratégicas que podem dar um grande contributo para as “principais instituições da cidade”.

Pedro Carvalho admite que a Universidade do Porto pode revelar-se “um parceiro estratégico do ponto de vista do desenvolvimento económico”, criando as condições necessárias para que se estabeleça uma ligação mais efetiva entre a universidade e a cidade, nomeadamente a partir da “criação de empresas e micro-empresas que aproveitem muita da inovação” que a universidade oferece e pelo desenvolvimento do turismo, nomeadamente “o turismo de negócios, o turismo científico e o turismo educativo, que ajudam a reafirmar o papel da cidade do Porto no mundo”.

“Não houve Feira do Livro porque não houve vontade política”

Pedro Carvalho não poupa críticas à não-organização da Feira do Livro, este ano, na cidade do Porto. “Independentemente do caráter mais comercial era um evento que estava no imaginário das pessoas”, afiança.

“Se calhar, quando se falava daqueles eventos que aconteciam na cidade, a Feira do Livro era um daqueles que era pronunciado”, explica Pedro Carvalho, que acredita que a feira não se realizou por falta de vontade política. “Independentemente das opiniões que a gente possa ter sobre a APEL, a questão dos pequenos livreiros, ou como é que uma edição é ou não realizada, a ideia que fica aqui é que não há Feira do Livro porque não se chegou a um compromisso de apoio que seria de 75 mil euros. Eu acho que aqui não houve vontade política”, acrescenta.