José Soeiro (Bloco de Esquerda – BE), Manuel Pizarro (Partido Socialista – PS), Rui Moreira (Independente) e Pedro Carvalho (Coligação Democrática-Unitária – CDU) acreditam ter muito pouco em comum, à parte de serem candidatos à Câmara do Porto nas autárquicas, que acontecem no próximo dia 29 de setembro.
Mas, de vez em quando, cruzam-se as linhas de pensamento, por mais distintas que sejam. Se há ponto de convergência, é no que diz respeito à importância que a Universidade do Porto (UP) e as restantes instituições de ensino superior assumem no desenvolvimento da cidade.
Manuel Pizarro diz mesmo que, “se há força que ajuda a mover o Porto, no sentido do futuro, é a Universidade do Porto”. Pedro Carvalho sublinha que não se pode ignorar “uma população estudantil que ronda os 50 mil alunos” e que há que “criar uma parceria estratégica” que focalize “a massa de conhecimento e a investigação que é produzida naquilo que interessa”, tendo em vista “o desenvolvimento da cidade”. José Soeiro concorda: “Há muito conhecimento que a universidade produz que a cidade tem desperdiçado”, afirma.
Investigação em prol da cidade e alojamento académico
A retribuição
Mas a Universidade deve retribuir à comunidade, acredita Pedro Carvalho: “Com oferta de serviços comuns, como o acesso às bibliotecas, a debates, a formação…”, esclarece. De preferência, gratuitos, afirma José Soeiro: “É preciso acabar com esta visão de direita em que a relação da universidade com a comunidade se baseia com a prestação de serviços pagos, ou seja, só acessíveis para quem tem dinheiro para os pagar”. “Estamos a regressar a um passado que já pensávamos esquecido, que era quando o ensino superior era apenas para as elites e para quem tinha dinheiro”, sublinhou Pedro Carvalho.
Em debate esta quinta-feira, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), apresentaram propostas “concretas”, como diria José Soeiro, para melhorar a experiência dos estudantes e a sinergia entre a cidade do Porto e a Universidade.
Pedro Carvalho, que teve de deixar o debate antes da hora prevista, é sucinto: “A Câmara devia criar bolsas de estudo bianuais de investimento próprio, em áreas em que necessita de investigação”, em prol da cidade, como o urbanismo ou o ambiente. E para isso, deve ainda “facultar informação [sobre várias áreas da cidade] aos investigadores. Neste momento, [essa informação] ou está inacessível ou é paga”, explica. “Estágios curriculares nos serviços da Câmara” é outra das ideias. José Soeiro acredita, no entanto, que “a autarquia deve dar o exemplo e ser livre de precariedade”.
O alojamento académico também não ficou de fora das preocupações dos oradores. O candidato pela CDU falou da criação de residências universitárias, em protocolo com a Universidade, nas “463 casas” em posse da autarquia. Pizarro falou em direcionar a reabilitação para a baixa e na “criação de um conceito urbano de bairro académico”, que já antes tinha referido. Rui Moreira partilhou a sua pretensão de “acabar com a informalidade no alojamento académico”, criando um selo de qualidade para as habitações. Uma ideia que já tinha discutido com a Federação Académica do Porto (FAP), porque “há muito gato por lebre”, diz.
Reabilitação continua a alterar os ânimos dos candidatos
A questão da reabilitação
José Soeiro – “Um balanço negativo” [ouvir] Manuel Pizarro – “É preciso mudar completamente” [ouvir] Rui Moreira – “A SRU podia ter feito mais, se tivesse orçamento” [ouvir]
Já o candidato do BE vai mais longe e sugere utilizar-se parte do Imposto Municipal sobre imóveis (IMI) para reabilitar casas e “disponibilizá-las numa bolsa de arrendamento a preços acessíveis, para pessoas mais jovens e estudantes”. Mas quando o tema é reabilitação, assume-se a “linguagem bélica”, como diria Pizarro, não tivesse Rui Moreira sido presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) do Porto. Os colegas candidatos da esquerda não deixam passar o posto em branco [ver caixa] e a Universidade é rapidamente posta à margem.
Mas a Universidade é o tema que os leva ao anfiteatro nobre da faculdade e a moderação, a cargo de José Rocha, da Associação de Estudantes da FLUP (AEFLUP), tenta trazê-los de volta. Antes disso, ainda se fala do caso RTP e discute-se a privatização do Aeroporto Francisco Sá-Carneiro.
Emprego, empreendedorismo e inovação
Rui Moreira volta ao trilho e diz que, a pensar nos jovens, quer “transformar a cidade num ambiente competitivo” para “atrair investimento e fomentar o empreendedorismo”. A pensar já para além dos estudantes, diz querer ainda “uma cidade onde os jovens possam residir, ter emprego e acesso à cultura”.
Ambiente
À parte dos temas mais polémicos e das picardias comuns, os candidatos à Câmara do Porto mantiveram-se sempre bem dispostos, com especial destaque para a cumplicidade de Manuel Pizarro e Rui Moreira, que chegaram a “trocar” os seus programa eleitorais. Pizarro leu atentamente as propostas do rival independente.
O candidato do PS segue a onda empreendedora e fala da sua ideia, a médio prazo, de constituir uma “ligação virtuosa entre Câmara Municipal e UP” para “potenciar a capacidade criadora dos jovens na criação de empresas inovadoras”. Antes disso, há, a curto prazo, investimentos a fazer na reabilitação, no comércio e no turismo. Ainda assim, faria do antigo matadouro de Campanhã um novo centro empresarial, com uma “grande aposta na área audiovisual, que faz falta ao Porto”.
“Alargar o conceito do Porto enquanto cidade incubadora” é outra das metas. “O UPTEC [Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto] tem fila de espera e há edifícios devolutos na cidade que podiam ajudar”, refere. José Soeiro fala em aproveitar a “taxa da derrama” – imposto sobre o lucro das empresas que efetivamente o têm – para apoiar jovens que querem criar novos projetos. Alargar o período de funcionamento das bibliotecas ou pôr o metro a funcionar à sexta e ao sábado à noite, são outras das ideias, apresentadas pelo candidato independente Rui Moreira.
O debate aconteceu na tarde desta quinta-feira e vazias estiveram as cadeiras de Luís Filipe Menezes, candidato pelo Partido Social-Democrata e Nuno Cardoso, independente; também convidados pela Associação de Estudantes da FLUP, responsável pelo encontro, para estarem presentes.