O estudante de doutoramento David Kidd e o seu orientador, o professor de psicologia Emanuele Castano na New School for Social Research (NSRR), em Nova Iorque; quiseram avaliar o efeito da leitura de ficção literária sobre os participantes na sua investigação em volta da “Teoria da Mente” (ver caixa).

Conceito

A “Teoria da Mente” (TM) é a complexa capacidade de atribuir e interpretar estados mentais: crenças, intenções, desejos, conhecimento… Os seus e os dos outros. Uma espécie de “leitura da mente” para entender quem nos rodeia: se um sorriso é falso, se determinada pessoa está triste ou desconfortável… Pessoas com autismo, esquizofrenia ou défice de atenção são normalmente incapazes de o fazer.

Para isso, escolheram três tipos de literatura – ficção literária, ficção popular e não ficção – e submeteram-na à leitura dos voluntários, sendo que cada um deles leu apenas um dos três genéros. Por fim, testaram as suas capacidades de “leitura da mente”, através de testes pré-estabelecidos.

A conclusão do estudo, denominado “Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind” [em português “Ler Ficção Literária aumenta a Teoria da Mente”] e publicado este mês na revista Science, foi inequívoca: ler obras de ficção melhora a capacidade intelectual de discernir os pensamentos e emoções de quem nos rodeiam.

Ainda assim, não é “qualquer ficção que é eficaz”. “A qualidade literária da ficção”, nomeadamente aquelas “com personagens complexas, cujas vidas interiores raramente são fáceis de perceber”, “é o fator determinante”, pode ler-se. Já as razões, explicam os investigadores, passam pela “forma como envolve o leitor. Ao contrário da ficção popular (de qualidade inferior), a ficção literária requer alguma ligação intelectual e estimula o pensamento criativo dos leitores”.

O processo

Assim, e tendo em conta que a qualidade literária é importante, os Kidd e Castano contraram especialistas de avaliação e estabeleceram regras na hora de escolher os textos que passariam aos voluntários. As obras de ficção literária foram representadas por trechos dos livros dos finalistas do “Prémio Nacional do Livro 2012 “. As de ficção populares foram retirados de bestsellers da Amazon e as obras de não-ficção foram selecionados a partir da Smithsonian Magazine.

Depois da leitura, os testes. No primeiro, os participantes tinham de olhar para uma fotografia de um ator, a preto e branco, e indicar a emoção que transparecia nos olhos do retratado. O segundo, o “Yoni test” incluiu experiências afetivas e cognitivas. “Utilizámos vários tipos de testes de modo a que os resultados não sejam específicos de um tipo de teste, aumentando ainda as evidências que convergem com a nossa hipótese”, explicaram os investigadores, em comunicado.

Emanuele Castano e David Comer Kidd acreditam agora que os resultados desta investigação podem ser úteis na reabilitação de presos ou na estimulação da comunicação em autistas, por exemplo.