Filipe toma conta de animais de estimação, “avia” listas de compras, vai buscar exames médicos, leva o carro à inspeção, programa jantares e entrega encomendas. Tarefas diárias na vida de qualquer pessoa, à exceção de que, no caso de Filipe, nenhuma delas é para responder às suas próprias necessidades.

É que tal como um “mordomo ocasional”, como já se descreveu, Filipe vive atualmente para ajudar a tornar mais fácil a vida dos que o rodeiam, oferecendo-se para fazer as tarefas que, por uma razão ou por outra, os próprios não conseguem – ou não querem – fazer. Em troca, um valor pré-definido com os seus clientes, tendo em conta o que lhe for pedido, a partir dos 10 euros (uma espécie de “taxa de ativação”).

Atualmente, um mês depois de criar a página de Facebook, numa “forma de divulgação tímida”, já tem clientes habituais – e satisfeitos – e serviços “praticamente todos os dias”. Connosco, falou no meio do trânsito a caminho de Leiria (prometemos que estava a usar o kit de mãos livres). É que Filipe não aceita só tarefas simples: “Vou entregar um trabalho feito no Porto. Como é uma coisa pessoal, convém ser entregue em mão. Para além disso, assim é possível haver logo uma reação e, caso for preciso mudar alguma coisa, posso voltar ao Porto para fazer as mudanças que forem necessárias e depois, quem sabe, regressar a Leiria”, explica Filipe.

Um serviço adaptado “às necessidades das pessoas”

Deixa que eu [não] vou

A única tarefa a que Filipe disse que não foi “mais uma brincadeira que uma proposta séria”. “Acho eu”, acrescenta, ainda a rir da memória. “Um senhor perguntou-me se queria ir jantar com a mulher dele, no dia do aniversário de casamento deles”, conta. “Disse que não seria possível mas que teria todo o gosto em organizar o jantar”.

As tarefas mais exigentes, como é o caso, devem ser marcadas com alguma antecedência, mas nem sempre o são. Ainda assim, Filipe é pragmático: “É tudo uma questão de gerir a agenda”, garante. E experiência já a tem: é que, em boa verdade, já o fazia para os amigos. “Como tinha algum tempo livre [Filipe estava desempregado há um ano] e uma rede de contactos muito alargada, acabava sempre por conseguir dar resposta à dificuldades que amigos e conhecidos iam encontrando”, recorda.

Por isso, foram eles próprio que o incentivaram a fazer da “arte do desenrascanço”, um negócio: “De todos, eu era provavelmente o que menos acreditava que isto pudesse ter sucesso”, diz. Enganou-se. Agora, até realiza algumas tarefas que nunca equacionou serem rentáveis. “O pet sitting, por exemplo. Tomar conta de animais enquanto as pessoas vão de férias… não imaginei que fosse uma possibilidade e tenho sido muito requisitado”, conta. “À medida das necessidades das pessoas”, vai-se adaptando ao que lhe pedem.

Para muitos amigos, continua a ser de borla, “porque amigos são amigos”, mesmo que muitos “façam questão de pagar”. Mas a verdade, é que a maior parte do que faz agora já não é para quem conhece e esse é um dos problemas a contornar. Como é que, sem conhecer a pessoa, se entrega as chaves de casa para ela poder tratar do seu animal, ou levar lá o eletricista? “É fundamental existir uma base de confiança, que é criada por indicação de clientes já satisfeitos”, conta Filipe. Até agora, nunca houve problema, mas é “fundamental que as pessoas partilhem as boas experiências” neste tipo de negócio.

E agora?

Depois de ter cativado os clientes individuais, está na hora de “alargar [o serviço] ao mundo empresarial”. Aos concessionários de automóveis, por exemplo, deixa a dica: “Em vez de ser o cliente a pedir para eu levar o seu carro à revisão, podiam ser as marcas a oferecer o meu serviço aos seus clientes”.

E para além do crescente público-alvo, Filipe até já tem de lidar com pedidos de emprego e propostas de colaboração. Se uns querem alargar a ideia a outras zonas do país, quase numa espécie de franchising, outros querem ser recomendados pelo “mordomo”. “Por exemplo, houve quem quisesse que, sempre que eu tivesse um pedido nesse sentido, os contactasse a eles especificamente: o eletricista, o canalizador…”, explica.

Para já, apesar da ideia seguir “de vento em popa”, Filipe não se mete “em grande voos”: “Nesta fase faço questão de fazer uma atuação pessoal e personalizada”, diz. Depois, logo se vê.