É uma ideia nova, não só em Portugal, mas a nível mundial. Lara Morgado e Sofia Melo decidiram levar a psicologia ao ambiente descontraído dos cafés. Por apenas quatro euros é possível adquirir um “escuto” – espécie de moeda criada para a iniciativa -, que equivale, cada um, a 15 minutos com uma das psicólogas. O projeto, designado de “Todouvidos“, está a ser desenvolvido desde 21 de outubro no Café Ceuta, no Porto.

Em entrevista ao JPN, Lara Morgado, mentora da iniciativa, explica que o local foi escolhido por ser “um estabelecimento emblemático e muito antigo da cidade”, com “vários tipos de público”. A psicóloga acredita que este tipo de profissionais “são úteis para toda gente” e acha “interessante” levar a ação a um “ambiente informal, a que todas as pessoas vêm, sem o peso da clínica ou do hospital”.

De acordo com Lara Morgado, a ideia inicial passava por “abrir um café em torno desta ideia”, num espaço “onde as pessoas pudessem tomar uma bebida, mas que tivessem psicólogos disponíveis a ouvi-las a qualquer momento”. Esse conceito, enquanto dá os seus primeiros passos, padece ainda de “alguma estranheza social” e, na opinião da responsável pelo projeto, é “preciso entranhar na sociedade primeiro”. Ainda assim, a iniciativa parece estar “a ganhar consistência” e a despertar a “curiosidade” das pessoas que, “com o pretexto de saber do que se trata, acabam por se sentar e falar”.

Um projeto com futuro

A aceitação da ideia começou logo no dono do Café Ceuta, um adepto de “coisas novas”: “Veio com uma ideia nova – acho que é a primeira vez que se faz uma coisa destas – e perguntou se eu estaria disponível a aceitar o projeto. Aceitei logo, coisas novas são comigo”. O proprietário fala ainda numa relação de simbiose entre café e iniciativa, já que advêm vantagens recíprocas para ambos: “Junta-se o útil ao agradável, os clientes dela são os meus”. E deixa uma garantia: “Enquanto ela quiser, isto vai manter-se”.

Uma das questões que poderia surgir seria a falta de privacidade num local frequentado por muitas pessoas. Para Lara Morgado isso não é um problema: “Não estou identificada. Não tenho nada que diga que sou psicóloga. À partida, as pessoas não precisam de saber que alguém está em consulta. Pode ser minha amiga, pode estar a falar comigo…”. Para os mais relutantes também há solução, pois “existe uma sala no andar debaixo, reservada para se alguém não quiser ser visto”.

“Uma resposta que não existia socialmente”

Apesar da formação das responsáveis, a iniciativa diverge do protótipo de uma consulta de psicologia. Neste caso, o usufruto do serviço pode ser “por qualquer motivo e não necessariamente porque se tem um problema que exija um acompanhamento prolongado no tempo”. Nesse sentido, pode ser necessidade de “apenas um dia, um momento, ou um segundo” e, dessa forma, está a ser preenchida uma lacuna com “uma resposta que não existia socialmente”.

Lara Morgado, admiradora da era dos Descobrimentos, revela ainda que “sempre quis ser uma descobridora” e faz uma analogia do seu empreendedorismo com esse período da história: “Não tenho caravela, mas tenho cérebro e acho que é preciso continuar a descobrir coisas que sejam úteis para as pessoas”. Por fim, realça que “a ciência deve estar ao serviço das pessoas” e o que espera é “ser-lhes muito útil”.