Nelson Mandela morreu esta quinta-feira, 5 de dezembro, em Joanesburgo, vítima de infeção pulmonar. Desde então, este “herói global”, como diz o La Vanguardia” ou “Colosso”, segundo o The Daily Mail, já fez correr muita tinta. São memórias, histórias, biografias, a mágoa do povo sul-africano e o futuro de um país que perdeu o físico de um dos seus maiores ícones. O ideal, há-de permanecer.

Recordar Nelson Mandela

Para saber mais sobre Nelson Mandela ou simplesmente recordar o histórico líder, pode aceder ao arquivo digital sobre o próprio, um projeto da Google e do Centro de Memória de Nelson Mandela, que disponibiliza milhares de documentos exclusivos sobre Madiba. Entre eles, correspondência dos tempos em que esteve preso, manuscritos das negociações do fim do Apartheid, muitas fotos e até alguns vídeos. No site da fundação em nome do ex-presidente da África do Sul pode ainda deixar uma mensagem de condolências.

Sarah Silva não tem dúvidas disso. “As pessoas estão de luto, estão muito tristes pelo que aconteceu, não estão revoltadas”, garante. Para além disso, há um respeito enorme por Madiba, conhecido mundialmente, que Sara não acredita que vá ser desfeito, pelo contrário. Há pessoas que ainda dizem que o Madiba é o presidente. Ou era, infelizmente…”, afirma.

Sarah nasceu na África do Sul mas com seis anos rumou a Portugal, onde viveu até 2012. Voltou para o abraço dos pais, na terra que a viu nascer, e por lá ficou. Longe ou perto, garante que sempre esteve “em cima do acontecimento”, com as pesquisas que fazia sobre ele, fruto da influência da mãe. “Há uma memória que a minha mãe sempre me deu: que ele foi e para sempre será o papá, o paizinho que deu nova luz a este país”, conta.

“Há uns tempos atrás, eu diria um mês, ele esteve muito doente e todos achávamos que ele ia falecer… Até agora não tínhamos tido nenhuma informação do estado dele”, diz. Na altura, o medo “dos brancos” não tardou. Apesar de Sarah achar “ridículo”, foi “influenciada” pela tensão. Agora, com o facto consumado, o ambiente é bem diferente, diz, e não tem “medo nenhum”.

“Há tantas coisas em memória dele e para ele. É muito bonito de se ver! Até há mercados fechados, hoje, mas toda a gente celebra a vida do Madiba, nós celebramos a vida dele [mandou-nos um link, para explicar a que se refere]. Os mini bus só passam música acerca dele, hoje, e toda a gente canta”, descreve. “As pessoas achavam que estavam preparadas, mas foi um choque”, garante.

Afinal, “Mandela ganhou o amor de todo o país”. “Nós víamos nele aquilo que procuramos em nós próprios”, lê-se numa nota enviada pelo atual presidente da ‘Africa do Sul, Jacob Zuma.

A admiração além fronteiras: um “herói do nosso tempo”

Fevereiro de 1999. Nelson Mandela com o, na altura, vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore e o vice-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. Foto: Nelson Mandela Center of Memory

Mas a tristeza de perder Mandela não se deixou ficar entre as fronteiras da África do Sul e alastrou-se a todos os que nutriam respeito pela figura do “líder além da lenda” – como o descreve o El País, – e a onda de lamentações não se fez esperar. Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, diz não conseguir imaginar a sua própria vida sem o exemplo de Mandela: “Ele alcançou mais do que pode ser esperado de qualquer homem. E hoje foi para casa. Já não nos pertence, pertence à eternidade”. David Cameron, primeiro ministro britânico, fala de um “herói do nosso tempo” e François Hollande, presidente francês, lembra “um resistente excepcional, um lutador magnífico”.

Em terras lusas, Pedro Passos Coelho evoca “o impressionante legado que Nelson Mandela deixou como homem e como estadista”, já o presidente Cavaco Silva – o mesmo homem que, enquanto primeiro ministro, votou contra a resolução que previa libertação de Mandela, em 1987 – garante que “a dedicação [de Mandela] á democracia e à liberdade invadiu os corações de todos quantos o admiram”.

Contactar com Mandela: “uma experiência-privilégio de vida

Já António Mateus, jornalista da RTP e durante muito anos correspondente na África do Sul pela Agência Lusa, fala de uma “uma experiência-privilégio de vida” que o “transformou profundamente, como ser humano, jornalista e escritor”. Ao jornal i, escreve sobre um homem, de um “cavalheirismo irrepreensível” que o deixava “tantas vezes, sem palavras”.

“Esquecer nunca; perdoar, sempre! Por nós”

“Perguntámos-lhe muitas vezes se, de verdade, conseguira esquecer os anos de violentações, humilhações e privações na luta contra o sistema de segregação racial”, recorda. “Mandela ponderava sempre cada palavra na resposta que formulava tão calma quanto assertivamente: ‘Esquecer nunca; perdoar, sempre! Por nós. Pelos nossos filhos. Pela mudança que sonhamos para o mundo!'”.

E de mudança se fez a vida de Nelson Mandela. Foi presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, um país que mudou radicalmente enquanto símbolo da luta contra o Apartheid. Ganhou o Prémio Nobel da Paz e é considerado por muitos como o “grande líder africano do século XX” – como escreve o espanhol ABC. Afinal, segundo ele próprio, “não há paixão (…) em se contentar com uma vida que é menos do que aquela que é capaz de viver”. “Hamba kahle Madiba”.