Numa altura em que Portugal passa por uma situação de urgência e de intervenção externa, Rui Moreira e Adriano Moreira estiveram, este fim-de-semana, em Serralves, para debater o estado em que o país se encontra, sob o tema “O Estado das Coisas/As Coisas do Estado”, com a moderação do jornalista António José Teixeira.

Com uma sala completamente esgotada, coube ao histórico político e estadista começar a primeira de dez conferências dedicadas a assuntos nacionais. Adriano Moreira criticou fortemente a política que está a ser defendida em Portugal e na Europa: “Acho que o país não tem conceito estratégico e a Europa também não, vivendo sempre na hesitação do que vem a seguir”, referiu.

Por outro lado, o ex-presidente do CDS também destacou a atual fragilidade da democracia: “Portugal sempre teve uma democracia forte e admirável e que, nos últimos anos, tem sido enfraquecida. Penso que é o poder da palavra contra a palavra do poder”, afirmou.

Moreira deu o exemplo da “comunhão de afetos” que Portugal precisa para ultrapassar esta situação económica: “Uma nação é, em primeiro lugar, uma comunhão de afetos. Esta comunhão sempre foi uma identidade nossa. Infelizmente, temos tido políticas que têm atingido esta identidade colocando, por exemplo, os velhos contra os novos”, apontou.

Por último, Adriano Moreira não deixou de apontar o maior risco pelo qual a Europa passa, com direta influência para Portugal: “Se houver um ‘desamor na Europa’, a voz da Europa vai-se enfraquecer no Mundo e isso não é bom para Portugal. Não podemos consentir que os EUA achem que o futuro passa pelo Pacífico e que o Atlântico é apenas um incómodo na sua retaguarda”, realçou o ex-deputado centrista.

“As coisas do Estado são imateriais”

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, começou a sua intervenção por sintetizar aquilo que para si são “as coisas do Estado”: “As coisas do Estado são imateriais e não se baseiam apenas num Orçamento de Estado ou num défice, pois isso é material e o Estado não é só isso”, realçou.

Ao longo do seu discurso, Moreira não se coibiu de criticar aquele que considera ser um dos maiores problemas da sociedade portuguesa atual, o sistema político: “Nós não temos uma plena soberania atualmente. O sistema político que está consignado evoluiu de uma forma em que já não consegue resolver os problemas dos cidadãos”.

Para o político, só há uma solução para resolver o estado das coisas, que é mudar este sistema que, segundo Rui Moreira, “não se consegue proteger dos grandes grupos económicos”: “Esta discussão sobre a reforma do Estado não vai ser feita antes de haver uma alteração no sistema político. Enquanto não formos capazes de o alterar ou enquanto o Estado estiver cativo de grupos económicos estranhos, corremos o risco de termos um Estado cativo que não pode ser reformado por estar numa gaiola”, afirmou.

Por essa razão, Moreira aponta alguns possíveis cenários de futuro no espetro político nacional: “Penso que vão começar a surgir focos diferentes, com a ameaça de um novo partido. Ou então vão surgir partidos com interesses específicos, como já tivemos, e que vão acabar por levar os partidos a mudar de vida”, destacou o presidente da Câmara Municipal do Porto.